O capítulo 9 é, indiscutivelmente, a profecia mais importante do livro de Daniel. Neste capítulo a profecia ganha um sentido histórico especial e ao mesmo tempo escatológico, tanto em relação a Israel, quanto em relação ao mundo. Diferentemente dos capítulos anteriores, esta revelação não se preocupa com os poderes mundiais, mas trata de uma revelação especial sobre o futuro de Israel que afeta, indiscutivelmente, todo o mundo. Nos capítulos anteriores, tais como os capítulos 2,4, 7 e 8, se percebe que Deus utilizou figuras diferentes do mundo mineral (metais), bem como, figuras do mundo animal para ilustrar os acontecimentos futuros do mundo. Na realidade, Deus usa elementos neutros como os metais (ouro, prata, cobre, ferro e barro), e elementos do mundo animal, para tratar de aspectos políticos, morais e espirituais. Todos esses capítulos tem uma relação especial com Israel que é o alvo da profecia.
No capítulo 9, Deus revela a Daniel fatos futuros do povo de Israel utilizando número de semanas, dias e anos. Esses números ganham uma linguagem especial na sua interpretação em relação ao povo de Israel. Daniel, ao rever o livro do profeta Jeremias descobriu uma profecia literal que estava chegando ao seu cumprimento. O período de 70 anos predito para um tempo de escravidão e exílio do povo judeu em terras estrangeiras estava chegando ao fim. Porém,Deus toma esta circunstância histórica para revelar outra verdade futura acerca do seu povo. Seria outro período de 70 semanas de anos totalizando 490 anos literais, sob o qual Israel experimentaria a força da soberania de Deus sobre Israel que afetaria o mundo inteiro. Depois da visão estarrecedora dos capítulos 7 e 8, quando Daniel visualiza espiritualmente o futuro com “um rei feroz de semblante” que prefigura numa perspectiva escatológica o futuro Anticristo, ou seja, “o homem do pecado”, Daniel enfraqueceu física e emocionalmente e lhe restou, tão somente, orar e buscar o socorro de Deus.
1. A INTERCESSÃO DE DANIEL
Daniel não desprezava a oração, em 586 a. C., quando fora levado ao cativeiro babilônico, o profeta se dobrou diante do Senhor, orando ainda na adolescência, juntamente com seus amigos (Dn. 2.17,18). No capítulo 9 de Daniel, identificamos uma das orações mais importantes da Bíblia. Deus havia decretado que o período do cativeiro duraria setenta anos (Jr. 25.8-11; 29.10-14), o profeta percebeu dois anos antes que seria o momento de orar pela libertação da sua nação. Daniel é um exemplo para todo homem e mulher de Deus a fim de equilibrar o estudo bíblico com a oração. Alguns crentes se dedicam bastante à oração, não perdem esses trabalhos, mas se distanciam da escola dominical. Outros, não atentam para a oração, se afastam do altar, ainda que frequentem os estudos bíblicos. Esses extremos são perigosos, podem levar os cristãos ao intelectualismo ou emocionalismo. Atentemos, pois para a vida de oração do profeta Daniel, principalmente no que tange à intercessão. Ele se apressou em rogar a Deus pelo Seu povo, para que o Senhor revelasse os tempos determinados para Israel. A oração de Daniel tem características instrutivas para todo cristão. Ele adora a Deus, não busca apenas as mãos, mas sobretudo a face de Deus (Dn. 9.4). Nestes tempos essa é uma verdade que precisa ser reforçada. Nossas orações refletem nossos interesses, crentes egoístas fazem orações centradas no eu. O profeta sabe que Deus é misericordioso, por isso clama ao Senhor para que perdoe os pecados do povo (Dn. 9.9). Daniel faz uma confissão dos pecados da nação, destacando a transgressão da lei (Dn. 9.11). A oração de Daniel é motivo de estímulo para orar pelo arrependimento das pessoas deste país. É pouco provável que tenhamos uma nação evangélica, considerando que a fé é pessoal.
Mas esperamos que as pessoas se convertam dos seus pecados, e que o arrependimento as aproxime de Deus.
2. A RESPOSTA À ORAÇÃO DE DANIEL
Deus responde a Daniel, mostrando o que haveria de acontecer com Seu povo. No capítulo 9 o profeta recebe do Senhor uma revelação das Setenta Semanas, mensagem que se encontra registrada em Dn. 9.20-27. A resposta vem por meio de um anjo (Dn. 9.21), o mensageiro de Deus, por nome de Gabriel. Inicialmente o mensageiro fala a respeito do Messias que viria no futuro, trazendo bênçãos para a nação (Dn. 9.24,25). Daniel é reconhecido como um homem amado no céu (Dn. 9.23), certamente por causa da sua vida piedosa. A revelação das Setenta Semanas começa com a descrição do Messias, o Ungido de Deus (Dn. 9.25). A obra do Messias também é ressaltada pelo anjo, que haveria de trazer a solução para o pecado (Dn. 9.24). Esse Messias, consoante ao que conhecemos hoje pela Bíblia, é o Senhor Jesus Cristo, nEle se cumpriram as profecias. Justamente como está registrado nos evangelhos, Ele foi rejeitado entre Seu povo (Dn. 9.26), levando-O à morte. Daniel também é esclarecido quando a destruição de Jerusalém (Dn. 9.26). Isso aconteceu várias vezes, em uma delas Vespasiano cercou a cidade, destruiu o templo e dispersou os judeus. Mas uma promessa de triunfo do Messias também consta na mensagem (Dn. 9.27). A vitória do Messias aconteceu na cruz, quando Cristo derramou o Seu sangue, para a remissão dos pecados (Mt. 26.28). Conforme enfatiza o autor da Epístola aos Hebreus, Ele foi sacrificado uma vez por todas (Hb. 7.27). Essa revelação também aponta para o anticristo, o pequeno chifre do capítulo 7 de Daniel. Esse é a assolação, o homem a quem Paulo denomina de o homem da iniquidade (II Ts. 2.8). Gabriel explica para Daniel que setenta semanas estão determinadas para Israel. Essas semanas podem ser divididas em três períodos de sete: um primeiro período de sete; o segundo período de sessenta e dois e o terceiro período que é a septuagésima. Assim, são 7 + 62 + 1 = 70.
3. O FUTURO DE ISRAEL REVELADO A DANIEL
As Setenta Semanas de anos de Daniel compreendem 69 semanas de anos / 7 anos em cada semana / 360 dias por ano, fazendo um total de 173.880 dias. Em 5 de março, 444 a. C., através do decreto de Artaxerxes para a reconstrução de Jerusalém(Ne. 2.1-8) x 173.880 dias = 30 de março, 33 d. C., quando acontece a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém (Lc. 19.28-40). Desse decreto até a entrada triunfal do Messias, totaliza 69 semanas de anos, sendo esse crucificado, encerrando o período determinado para Israel, e iniciando a era da igreja. Segundo alguns historiadores, o Messias teria sido tirado em 3 de abril de 33 d. C., e a cidade e o templo destruído em 6 de agosto de 70 d.C. A verificação desses tempos pode ser assim contabilizada: 444 a. C a 33 d. C. = 476 anos. Em seguida 476 anos x 365.2421989 dias = 173.885 dias, acrescentando 25 dias entre 5 de março (decreto de Artaxerxes) e 30 de março (a entrada triunfal do Messias, total de 173.880 dias. O fundamento para os anos de 360 dias é Dn. 9.27, e os 1.260 dias de Apocalipse 11.3 e 12.6. A expectação da igreja é pelo arrebatamento, que acontecerá repentinamente, sem sinais antecedentes. Depois do arrebatamento, após a metade da primeira semana, ou seja, três anos e meio, o anticristo se revelará, consoante ao que está revelado em Ap. 13, a besta perseguirá o povo de Israel, trazendo sua marca 666. Esse será o início da denominada Grande Tribulação, na qual o anticristo exigirá adoração, exigindo ser reconhecido como deus. Conforme identificamos no capítulo 19 de Apocalipse, Cristo virá em glória, como Rei dos reis e Senhor dos senhores, para pelejar contra a Besta, na batalha do Armagedom.
CONCLUSÃO
A igreja do Senhor não passará pela Semana Setenta, pois ela aguarda com esperança o arrebatamento (I Co. 15.51,52). Sabemos que nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, a trombeta soará, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (I Ts. 4.13-17). Essa é uma mensagem de consolo, não temos motivo para desespero, o mundo teme o fim das coisas. Jesus disse que nós não deveríamos nos atribular, antes confiar na Sua palavra, pois ao Seu tempo, virá para buscar a Sua igreja, para estar junto dEle (Jo. 14.1).
BIBLIOGRAFIA
LAHAYE, R., HINDSON, E. Enciclopédia popular de profecia bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
SILVA, S. P. da. Daniel: versículo por versículo. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
CABRAL, E. Integridade Moral e Espiritual, Rio de Janeiro : CPAD, 2014.
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