INTRODUÇÃO
Até agora Daniel fora o agente divino na revelação, interpretando sonhos de outros. Daqui para frente, um anjo interpreta os sonhos e as visões do próprio Daniel (7:16; 8:15-17; 9:20-23; 10:10-14). Até agora o autor falou na terceira pessoa; daqui para frente ele escreve na primeira, dando um relatório mais íntimo de suas experiências.
Uma transição da profecia centralizada nas nações gentias para a profecia centralizada nos judeus toma posição coma entrada do "povo santo" (traduzido "santos", vs. 18, 22, 25). Os judeus são o centro do interesse do final do livro.
I - VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS
Os reinos do mundo não são independentes, os impérios mundiais estão debaixo da soberania de Deus (Dn. 7.2,3). Os quatro ventos, ao longo da Bíblia, retratam a totalidade da terra, o alcance mundial. Principalmente nos dias atuais, marcados pela globalização, os quatro cantos da terra se tornaram um. Os reinos se levantam e demonstram sua potência a todos os lugares. A mídia se encarrega de fazer a divulgação dos feitos dos impérios, a propaganda é utilizada como arma para a dominação. O mar é símbolo dos povos, que se encontra em convulsão, diante dos impasses dos governos humanos. Deus permite que os governos humanos prevaleçam, mas não apoia suas decisões, principalmente àquelas que prejudicam seus servos. Impérios se levantam e caem, nenhum deles permanece para sempre, essa inconstância é uma demonstração de fragilidade. Os impérios mundiais são demonstrados através de quatro animais, que se encontram em paralelo com o capítulo 2 do livro de Daniel. Neste capítulo nos deparamos com os impérios e seu esplendor, enquanto que no capítulo 7 o enfoque está em aspecto interno, como feras. Esses governos não são ovelhas, mas animais selvagens, que não agem em prol do bem das pessoas, funcionam como governos que devoram as pessoas. Os animais apresentados nessa visão de Daniel sobem do mar, de maneira sucessiva e simultânea. Eles têm características recorrentes: surgem de baixo, são animais ferozes, serão destruídos no futuro, seu tempo é determinado por Deus (Dn. 7.12). Os quatro animais são: o leão (império babilônico), o urso (império medo-persa), o leopardo (império grego-macedônio) e o animal de dez chifres (império romano).
Quatro animais grandes . . . subiam do mar. Portanto, os animais, mais tarde descritos, estão ligados com o Mediterrâneo. Do mesmo modo, como indica o uso simbólico e profético de "mar", eles se levantaram com reboliço, inquietação, com palavras turbulentas, etc., coisas que acompanham a falsa diplomacia (Is. 57:20; Jr. 6:23; 50:42; 51:42; Ap. 17:15; cons. Lc. 21:25). As nações e o seu levantamento não são encaradas de maneira lisonjeira nas Escrituras (Is. 34:2; 40:15-17; Joel 3:2; cons. "o mundo", I João 2:15 e segs.; 5:19; II Pe. 3:10).
Diferentes uns dos outros. Cada nação tem as suas próprias
características especiais, embora todas partilhem do mesmo caráter
brutal, irracional e bestial. Que diferença tem esta visão interior do
profeta da dignidade rutilante da imagem do sonho do pagão
Nabucodonosor!
O leão simboliza a Babilônia aqui e também em Jr. 4:6, As asas de águia falam de velocidade, como o leão da força. São
símbolos naturais dificilmente precisando de explicação (cons. II Sm.1:23; Jr. 49:19-22; Ez. 17:3-24).
O urso é um símbolo adequado para o reino medo-persa. Força e ferocidade fazem parte de quase todas as vezes em que a Bíblia usa a figura de um urso. A magnitude poderosa se ajusta bem aos grandes exércitos persas. Diz-se que Xerxes comandou dois milhões e meio de homens quando atacou a Grécia. A dualidade pode estar sugerida pela
referência aos lados do animal.
O musculoso leopardo de quatro asas fala, sem dúvida, do reino grego (macedônio) de Alexandre. O governo passou de Nínive (Assíria) para a Babilônia em 612 A.C. ; da Babilônia para a Pérsia em 539 A.C. e Dario III para Alexandre em 331 A.C.
Como no capítulo 2, o quarto estágio do império romano. Desde que o reino deve prevalecer até a destruição do Anticristo (o pequeno chifre) e o estabelecimento do reino de Cristo, eterno, final e visível (cons. Ap. 19:11 - 20:4), deve ser considerado como urda
prevalecente. A forma décupla do estágio final, talvez sugerida pelos dez artelhos do capítulo 2, está clara aqui e confirmada por Ap. 17:3 e segs. Mais tarde o pequeno chifre está identificado com o Anticristo final.
Esta cena do trono está minuciosamente elaborada no Ap. capítulos 4-20. Evidentemente os cinco versículos de Daniel abrangem o mesmo terreno dos dezessete capítulos do Apocalipse. É uma cena do juízo onde o Ancião de dias - ninguém outro que "o Alto, o Sublime,que habita a eternidade" (Is. 57:15) - toma posse dos re inos da terra
através do Filho do homem - um nome que o Senhor claramente reivindicou para si mesmo (Mt. 24:30). A ação dramática através da qual o reino da besta é violentamente derrubado encaixa-se em muitas predições bíblicas sobre a maneira pela qual nosso Senhor julgará as nações no final desta dispensação.
Embora separados por detalhes de interpretação (vs. 15-20),
estes versículos pertencem à visão propriamente dita e não à interpretação. Os santos do Altíssimo . . . os santos possuíram o reino.
Nada é mais certo que o fato de todos os santos de todas as dispensações participarem do triunfo final de Cristo no Seu reino. Mas esta passagem apenas afirma uma parte desta verdade. A perspectiva do livro, o significado das palavras, e o contexto aqui limitam a aplicação ao povo de Daniel, o Israel claramente identificado em 10:14 (aqui se usou a expressão hebraica equivalente). "Por 'santos do Altíssimo' que receberão todo o domínio (Dn. 7:18-27), Daniel só poderia entender o
povo de Israel, que se destacava das nações e reinos pagãos, que deveriam reinar até então (2:44); nem temos nós, de acordo com a exegese estrita, o direito de aplicar a expressão a qualquer outra nação; portanto não podemos aplicá-la imediatamente à Igreja . . . As palavras do profeta se referem ao restabelecimento do reino de Israel".
II - O SIGNIFICADO FIGURADO DOS QUATRO ANIMAIS
Os quatro animais como já dissemos estão ligados com o Mar Mediterrâneo. O uso simbólico e profético do “mar” revela as turbulências e inquietações promovidas pelas lideranças desses personagens dos quatro impérios. Esses animais são diferentes uns dos outros e possuem caraterísticas que revelam a brutalidade daqueles dias de forma irracional porque as ações desses animais ultrapassarão o nível da racionalidade. Era o retrato que Deus dava desses impérios nas figuras animalescas do texto para revelar o surgimento deles ao longo da vida de Israel e do mundo, bem como, destacar o último grande império mundial sob a égide de Satanás, representado pelo Anticristo.
“o primeiro era como leão e tinha asas de águia” (7.4.). O leão, do mundo animal, o rei dos animais, simboliza a Babilônia, profetizado, também, pelo Profeta Jeremias (Jr 4.6,7). Comparando as visões do capítulo 2, a “cabeça de ouro”(Dn 2.32,37,38) é a “Babilônia” representada no capítulo 7 pelo “leão com asas de águia” (Dn 7.4), percebemos o paralelo entre os dois capítulos. Deus se utiliza de figuras do conhecimento cultural do homem para revelar verdades morais e espirituais, por isso, na visão de Daniel Deus usou figuras do mundo animal. No reino animal, o leão é o predador maior, portanto o rei. Aqui no capítulo 7 o leão representa o Império Babilónico e as “asas de águia” fala da conquista em extensão desse império que foi o maior do mundo naquela época. Na natureza, na fauna animal, o leão e a águia são os animais nobres. O leão é símbolo do rei dos animais terrestres e a águia é identifica como a rainha das aves do céu. Os dois, o leão e a águia representam a Babilônia pela ostentação de domínio e riqueza que tinha em relação ao mundo de então. O leão lembra a bravura, a violência e a força bruta sobre suas presas. Foi o que Nabucodonosor fez com as nações que subjugou sob seu domínio. A águia lembra a rapidez e a voracidade. Portanto, o domínio da Babilônia aconteceu entre os anos 605-539 a.C. Na visão, Daniel viu que o fim chegou para a Babilônia quando lhe “foram arrancadas as asas” (7.4) e isto lembra o fato quando Nabucodonosor que ficou demente, agindo como animal do campo, porque não soube reconhecer a soberania divina. Ora, uma águia sem asas significa um poder desfeito, sem capacidade de voar. Depois de “arrancadas as asas”, diz o texto que o mesmo “foi posto em dois pés como homem”, e na sua recuperação voltou à racionalidade e passou a agir como homem normal. Com esta experiência, Nabucodonosor teve que reconhecer a soberania divina e lhe dar a glória que só pertence a Deus (Dn 4.24,25,32,33,36,37).
III - O CLÍMAX DA VISÃO (7.9-14)
A escatologia está sendo abandonada por muitas igrejas e pregadores, porque entendem que a igreja não deve se preocupar com Israel, nem com o seu futuro. Algumas igrejas e pregadores preferem uma teologia horizontalizada que se preocupa, essencialmente, com “o aqui e agora”, com o “hoje”. Ensinam alguns que as profecias de Daniel e Apocalipse têm um caráter apenas alegórico e que pode ser descartado por temas atuais. Entretanto, não podemos descartar a importância dessas profecias que apontam para o futuro.
A visão de Tronos e do Juízo de Deus (7.9-14)
O texto diz: “foram postos uns tronos”(7.9).A partir do versículo 9, Daniel vê uma cena de juízo da parte de Deus contra o quarto animal, ou seja, a quarta Besta que aparece na visão com um vislumbre escatológico para o Anticristo. Esses tronos, no plural, indicam vários juízos aplicados nos dias da Grande Tribulação. E interessante notarmos que os tronos de juízo aparecem simultaneamente com a aparição do “chifre pequeno” indicando todos aqueles juízos revelados na visão do Apocalipse a João na Ilha de Patmos. Esses tronos vistos na visão de Daniel indicam tribunais em que alguns personagens especiais se assentam para julgar. O texto lembra um tribunal como a Suprema Corte que reúne juízes para julgar. O próprio Deus, Juiz Supremo, se assenta no seu Trono, acompanhado de seu Conselho Celestial para julgar (1 Rs 12.19; Jó 1.6).
CONCLUSÃO
Daniel ficou impactado com os acontecimentos que viriam a acontecer (Dn. 7.14,15). Nós, os cristãos, temos motivos celebrar, ao reconhecer que os ditames do mundo estão nas mãos de Deus. O rosto de Daniel empalideceu (Dn. 7.28), nós também podemos nos espantar, mas com confiança, disposto a enfrentar os poderes do mal, cientes que, ao Seu tempo, o Senhor julgará todos os reinos da terra. Os inimigos que oprimem o povo de Deus serão julgados, e o reino do Messias durará para sempre.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, S. P. da. Daniel: versículo por versículo. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
LOPES, H. D. Daniel. São Paulo: Hagnos, 2005.
CABRAL, E. Integridade Moral e Espiritual, Rio de Janeiro : CPAD, 2014.
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