A Providência Divina na Fidelidade
Humana
INTRODUÇÃO
Neste capítulo percebe-se a obsessão do
rei Nabucodonosor pelo poder quando ele se engrandece e se endeusa perante os
súditos do seu império. Supõe-se que a história desse capítulo ocorreu quase ao
final do seu reinado (Jr 32.1; 52.29).
O capítulo três é
mais uma prova de que vale a pena ser fiel a Deus até mesmo quando somos
desafiados em nossa fé. Percebe- se que Nabucodonosor já havia se esquecido da
manifestação do poder de Deus na revelação dos seus sonhos, mas ele parecia embriagado
pelo poder e pelo fulgor de sua própria glória. A presunção chegou ao ápice da
paciência de Deus e ele não se contentou em ser apenas “a cabeça de ouro” da
grande estátua do seu sonho no capítulo dois. Ele perde o bom senso e constrói
uma estátua toda de ouro de mais de 27 metros de altura aproximadamente, e
ordena que os representantes das nações, súditos seus, se ajoelhassem e
adorassem à sua estátua que representava ele mesmo. Tornou-se um déspota que
exigia dos seus súditos um servilismo irracional. No meio da multidão dos
súditos estavam os três jovens hebreus fiéis ao Deus de Israel, o qual não
transigiu de modo algum.
1.
A RELIGIÃO DE NABUCODONOSOR
O
rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro (3.1). Na verdade, o Império
Babilónico foi o primeiro grande império mundial a construir uma grande estátua
que deveria ser adorada por todos os súditos do império (Dn 3). Era
interessante notar que em nenhum momento se identifica a estátua com algum deus
babilónico. A omissão de algum nome para essa estátua sugere que o rei fez uma
estátua que fosse identificada com ele mesmo que assumia uma postura de
deidade. Era comum naqueles tempos dos assírios e babilónicos que os seus reis
construíssem suas próprias imagens nas entradas dos palácios e diante das
imagens dos deuses para que ficassem protegidos de males e fossem felizes em
seus reinados. Porém, aquela imagem de 27 metros de altura fora construída para
ser adorada pelos súditos em obediência ao edito soberano de Nabucodonosor.
Em
ocasiões especiais como a que o rei propiciou, quando as homenagens aos reis
aconteciam diante dos deuses, Nabucodonosor exigia obediência cega dos seus
súditos de todos os territórios do império fortalecendo seu domínio. De todas
as nações presentes com seus exilados estavam lá os judeus que serviam ao Deus
vivo de Israel.
Mas o rei testava seu poder de dominação
requerendo dos exilados que renegassem suas crenças e substituíssem seus deuses
pelos deuses da Babilônia. Na história contada por Daniel, estavam lá os seus
três amigos. Não há uma explicação plausível para a ausência de Daniel naquele
evento. O que importa, de fato, é que os três hebreus deram uma lição de fé no
seu Deus.
2. A
FIDELIDADE DOS SERVOS DE DEUS
Como testemunhas de
Deus, devemos nos posicionar, mesmo diante de ameaças (Dn. 3.15). Há crentes
que têm medo de perseguições, por isso buscam conveniências, às vezes fazendo
concessões.
A igreja não deixa de
crescer durante a perseguição, muito pelo contrário, temos testemunhos de
fidelidade justamente em tempos adversos. Devemos orar pela paz, e buscar viver
bem em sociedade, mas é preciso ter cuidado, para não transformar a comodidade
em comodismo. A defesa da nossa fé não precisa ser odiosa, devemos demonstrar
mansidão (I Pe. 3.15), e amor, até mesmo aos inimigos (Mt. 5.44-48). A igreja
de Jesus Cristo está susceptível às perseguições (II Tm. 3.12).
Ainda que no futuro
leis sejam aprovadas, contrárias aos fundamentos da fé cristã, não assumiremos
os valores defendidos e praticados pelo mundo (I Jo. 5.19). As consequências
poderão ser desafiadoras, mas devemos permanecer firmes, como fizeram os jovens
na Babilônia (Dn. 3.17,18).
Os
cristãos continuarão a viver a partir dos princípios divinos, independentemente
das circunstâncias. A morte não deve ser motivo de temor, pior que a morte é um
cristianismo medíocre, que não se compromete com a verdade divina (Mt. 10.28).
Nesses dias que antecedem ao pleito eleitoral, tenhamos cuidados para não nos
dobrarmos diante de ideologias humanas. Também sejamos cautelosos para não nos
tornarmos meros moralistas, julgando os pecadores sem dar-lhes a oportunidade
de arrependimento. Se por um lado, muitos estão se dobrando diante do
deus-imoralidade, outros estão, com a maior naturalidade, se deixando conduzir
pelo deus Mamom. O mesmo Deus que reprova os pecados sexuais (Mt. 5.32)
também censura os adoradores do dinheiro (Mt. 6.24; I Tm. 6.10). Somente
Deus deve ser adorado, essa é a mensagem contundente de Jesus, profética para
os dias atuais (Mt. 4.10). E que possamos responder como os três jovens : Eles
estavam prontos, não para obedecer a imposição do rei quanto à sua fé. Eles
estavam prontos, sim, para manter a sua fé no Deus que podia mudar toda aquela
situação. Aqueles jovens entendiam que fidelidade é algo inegociável. A
fidelidade desses jovens era mais que uma qualidade de caráter, era uma
confiança inabalável em Deus que haveria de intervir naquela situação. A
resposta resultava do conhecimento prévio que tinham do mandamento divino: “Não
terás outros deuses diante de mim. Não farás imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o
Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até
a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Ex 20.3-5). Deus busca
homens e mulheres que tenham a fibra de manter a fidelidade a Ele mesmo quando
ameaçados.
Não necessitamos
de te responder sobre este negócio (3.16). A confiança em Deus e a certeza de
que Deus faria alguma coisa lhes deu a convicção de que valia a pena enfrentar
a fornalha pelo de Jeová.
3. A
PROVIDÊNCIA DO SENHOR
Os jovens, fiéis
servos do Senhor, foram lançados na fornalha de fogo ardente, resultante da
fúria insana de Nabucodonosor (Dn. 3.15). Ele mandou aquecer a fornalha sete
vezes (Dn. 3.19) e mandou amarrá-los antes de lança-las no fogo (Dn. 3.20). Nem
sempre Deus livra os seus servos da fornalha, mas na fornalha (Is. 43.1-30). Os
cristãos que não querem mais sofrer, e que fogem da possibilidade de
perseguição, não compreenderam o preço do discipulado (Mt. 16.24). Há uma cruz
a ser carregada, com C. S. Lewis, não recomendamos o cristianismo a quem quer
uma religião confortável.
A fé cristã nos tira
do lugar comum, nos lança diante da adversidade, também da incompreensão.
Por causa da nossa fé, podemos ser tratados
como a escória do mundo, não poucas vezes assumidos como loucos (I Co. 1.17-23).
Mesmo diante das perseguições, podemos confiar em Deus, Jesus prometeu estar
conosco (Mt. 28.20). Justamente nas horas mais adversas, quando somos
perseguidos por causa do amor a Cristo, sentimos mais de perto a Sua presença.
Aqueles que são perseguidos na defesa do evangelho são bem-aventurados (Mt.
5.11,12). Deus promete, no meio da perseguição, nos dá o escape, mesmo que esse
venha com a morte. A galeria dos heróis da fé de Hb. 11 é uma demonstração
dessa verdade. O Senhor pode decidir ser glorificado através da passagem dos
seus servos para a eternidade.
Estevão se tornou o
primeiro mártir da fé cristã, mas para isso precisou sacrificar a própria vida,
por amor a verdade do evangelho de Jesus Cristo (At. 7.51-60).
Mas o Senhor pode
soberanamente dar o livramento nesta vida, de maneira providencial como fez com
os jovens judeus na Babilônia (Dn. 3.24,25). Mas eles não foram salvos para a
glória pessoal, antes para dar glória a Deus (Dn. 3.26).
CONCLUSÃO
Nabucodonosor
reconheceu que o Deus de Ananias, Misael e Azarias era o Deus Poderoso (Dn.
3.28,29). As atitudes da igreja, em todo o tempo, como sal da terra e luz do
mundo (Mt. 5.13,14), devem apontar para Cristo. Ele é Cabeça da Igreja, e nós,
como corpo, devemos agir a partir dos Seus princípios. Uma igreja cristã
autêntica tem compromisso com a Cabeça, não em agradar a líderes meramente
religiosos (Cl. 1.18). Ainda que sejamos perseguidos, estamos certos que nada
nos separará do amor de Cristo (Rm. 8.39-37).
BIBLIOGRAFIA
SILVA, S. P. da. Daniel: versículo por versículo. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
CABRAL, ELIENAI. Integridade Moral e Espiritual. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
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