quarta-feira, 18 de março de 2015

LIÇÃO 12 - NÃO COBIÇARÁS



INTRODUÇÃO

A cobiça está causando estragos à sociedade na qual vivemos, as pessoas estão pagando um preço elevado por causa desse pecado. Diante dessa realidade, nos voltaremos, na aula de hoje, para os perigos individuais e coletivos da cobiça. Inicialmente mostraremos que esse pecado acabou sendo naturalizado, sendo inclusive incentivado pela propaganda. Por fim, analisaremos os reflexos de uma sociedade gananciosa, e a necessidade de resgatar o princípio bíblico do contentamento.


1. UM PECADO NATURALIZADO

A cobiça é proibida no décimo e último mandamento, a palavra do Senhor é enfática: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do eu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” (Ex. 20.17). O verbo cobiçar, nesse mandamento, é chamad e expressa o desejo desenfreado de possuir algo ou alguém. Esse tipo de desejo é identificado no Jardim do Eden, quando Eva cobiçou comer o fruto proibido (Gn. 3.6). Com base em Ex. 20.17, é possível identificar vários tipos de cobiças: bens materiais, tais como carros luxuosos, e mansões bem localizadas. A indústria da beleza faz também com que as pessoas desejam possuir homens e mulheres com corpos esculturais. Há uma tendência à insatisfação, ninguém fica feliz com o último veículo que adquiriu, logo após colocá-lo na garagem, lamentam não ser igual ao do vizinho. Há aqueles que não se satisfazem com seu cônjuge, estão sempre em busca da mulher do próximo, resultando em adultério (Mt. 5.28). Em relação aos bens materiais, a igreja conseguiu institucionalizar a cobiça, denominando-a de prosperidade, que na verdade é ganância. Muitos crentes, influenciados pela teologia da ganância, pedem para satisfazer seus desejos descabidos (Tg. 4.13). As promessas alusivas à Israel, e que se concretizarão no Milênio, estão sendo tomadas individualmente por alguns crentes, que arrogam ser proprietários das “bênçãos” de Deus.

2. QUANDO A COBIÇA SE PROPAGA

Alguns crentes deixaram de medir as consequências da cobiça, não poucos estão endividados por seguirem a pauta da teologia da ganância. Tiago revela os estragos desse tipo de pecado, por causa dele pessoas estão contendendo umas com as outras (Tg. 4.1,2). O princípio da meritocracia tem seu lado positivo e negativo, é preciso ter cautela para não assumi-lo cegamente. Há aqueles que por acharem que merecem o que têm, defendem que podem desejar o que quiserem. Essa atitude é incitada pelos meios de comunicação, principalmente através da propaganda, para alimentar o consumo desenfreado.  Mas Jesus advertiu em relação ao pecado da cobiça, listando-o entre outros, tais como roubo, assassinato e adultério (Mt. 7.21,22). Entre aqueles que ficarão fora do reino de Deus, apresentados por Paulo em I Co. 6.9,10 estão os cobiçosos. Há exemplos bíblicos de problemas causados individualmente e coletivamente por causa da cobiça, as mais conhecidas são a de Acã  (Js. 7.21) e Acabe (I Rs. 21.1-3). No contexto do Novo Testamento, o desejo por possuir cada vez mais é uma demonstração de carnalidade, e mostra ausência do fruto do Espírito, considerando que um dos seus aspectos é o autocontrole (Gl. 5.16-22). Apelando mais uma vez a Tiago, sabemos que uma vez que a pessoa cultiva esse pecado no coração, o final será a ruína, que gera a morte (Tg. 1.14,15). Mas há aqueles, inclusive nas igrejas, que acham normal cobiçar, gostariam de estar na lista dos mais ricos da Revista Forbes. Paulo, no entanto, adverte que aqueles que querem ser ricos caem em tentação, em concupiscências loucas, que levam à perdição (I Tm. 6.9).

3. CULTIVE O CONTENTAMENTO

Os cristãos precisam fugir desse modelo mundano, que alimenta a ganância, e naturaliza a cobiça. Para tanto devem saber que “é grande ganho a piedade com contentamento” (I Tm. 6.6). Por isso, devemos aprender a cultivar a satisfação, saber distinguir o que é necessário do supérfluo. De modo que, conforme instrui o autor da Epístola aos Hebreus, nossos costumes devem ser sem avareza, contentando-nos com o que temos (Hb. 13.5). Essa é uma prática que se concretiza ao longo da experiência com Deus, ao aprendizado na dependência, sabendo que Ele nos provê “o pão nosso de cada dia” (Mt. 6.11). Na escola de Cristo, aprendemos, como fez Paulo, a estar contente com o que se tem, saber estar abatido pela privação, e se for o caso, a ter em abundância (Fp. 4.11-13). Por deixarem de cultivar essa disciplina cristã, muitos cristãos estão dobrados diante de Mamom (Mt. 6.24). Ao invés de investir neste mundo tenebroso, cuja riqueza perece, e causa ansiedade (Mt. 6.19-21), busquemos primeiro o Reino de Deus, e o necessário nos será dado (Mt. 6. 33). O texto, no seu devido contexto, nos diz que “estas coisas”, isto é, alimentação e vestimenta, não “todas as coisas”, como apregoa a teologia da ganância. Tenhamos cuidado para não dar primazia ao dinheiro em nossas vidas, pois a esse respeito alertou o Apóstolo que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tm. 6.10). Uma vida cristã sadia não está pautada na cobiça, na insatisfação defendida pela sociedade, mas na gratidão ao Senhor, reconhecendo que Ele sempre nos dá mais do que mereceremos.

CONCLUSÃO

A cobiça está destruindo muitas vidas, até mesmo daqueles que são considerados evangélicos. Por causa da ganância muitos não conseguem mais encontrar satisfação, nem mesmo na presença de Deus. O Senhor revelou a Abraão que Ele, e somente Ele, é nossa maior recompensa, o Grande Galardão (Gn. 15.1). Quando encontramos plena satisfação em Deus, podemos trabalhar com afinco, buscar suprir as necessidades pessoais e familiares, mas sem nos tornar escravos do consumismo.

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Hagnos
ESEQUIAS, Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante MudançaEditora CPAD

quinta-feira, 5 de março de 2015

LIÇÃO 10 - NÃO FURTARÁS


INTRODUÇÃO

Nesta aula estudaremos mais uma das dez palavras, trata-se de uma reflexão bíblico-teológica sobre o princípio da propriedade. Inicialmente, mostraremos a percepção bíblica do furto/roubo na Bíblia. Em seguida, nos voltaremos para os diferentes tipos de furtos/roubos na sociedade. Ao final, ressaltaremos a importância do trabalho, como forma legítima de sustento, além de dar glória a Deus.

1. O FURTO/ROUBO NA BÍBLIA

A palavra hebraica para “furtarás” é ganaf e significa, literalmente, “carregar algo, de forma sorrateira”. Tecnicamente furtar é se apoderar de algo que não pertence à pessoa. No contexto da sociedade judaica, esse verbo era usado para se referir ao arrombamento, assalto por meio de violência, pilhagem e sequestro, ou mesmo obtenção de recursos por meios indevidos. O verbo também tem a ver com peculato  - tomar fraudulosamente dinheiro ou bens de alguém; extorsão – receber dinheiro de alguém através de ameaça ou abuso de autoridade; e estelionato – obtenção de dinheiro ou recursos por meios ilegais. Como se pode perceber, ganaf tem um alcance bastante, de modo que abarca diferentes situações de furto e roubo na sociedade contemporânea. A partir de Lv. 19.9-13, é possível identificar também furtos na relação senhor e servo. Em termos aplicativos, existe o risco dos empregadores explorarem seus trabalhadores, retendo aquilo que lhes é de direito (Tg. 5.4). Por outro lado, os empregados não podem furtar seus empregadores. Antes devem trabalhar como ao Senhor, fazendo tudo para a glória de Deus (Cl. 3.20-23). O furto deve ser abandonado, ninguém deve agir com desonestidade, mesmo que essa prática seja considerada normal (Ef. 4.28). Os funcionários públicos que se envolveram em atos de corrupção devem seguir o exemplo de Zaqueu, e se arrependerem dos seus pecados (Lc. 19.8). 

2.   LADRÕES E LADRÕES

Acã é um exemplo bíblico de ladrão, quando o Senhor entregou Jericó nas mãos dos israelitas, Josué deu orientações para que ninguém se apropriasse do anátema (Js 6.16-19). Depois de seguir as instruções de Yahweh, o povo obteve êxito na empreitada, mas Acã resolveu desobedecer, e ficar com parte dos despojos da batalha (Js. 7.21). Talvez ele achasse que ninguém iria perceber, que o Deus de Israel não levaria isso em consideração. Mas os olhos do Senhor estão fitos nos atos pecaminosos dos homens. Ele viu o pecado de Acão, advertindo quanto às consequências para o povo (Js. 7.10-12). Existem ladrões e ladrões, todos são pecadores, e dignos do juízo divino. Contudo, há furtos/roubos que trazem maiores consequências à comunidade. Há quem pense que o desvio de determinadas quantias do erário público não causará grandes danos. A mídia alimenta essa crença, pois busca punição apenas para os ladrões que realizam pequenos furtos. Aqueles que roubam os mais pobres são acobertados, considerando que alguns têm foro privilegiado, e o controle dos meios de comunicação. Enquanto isso, milhares de pessoas estão nos corredores dos hospitais, tantas outras nas ruas sem emprego, e crianças sem uma educação pública de qualidade. Ao que tudo indica, o dinheiro é enviado para atender às demandas sociais, mas acabam sendo desviados, a fim de favorecer determinadas empresas, que elegem aqueles que deveriam representar o povo. A democracia é uma conquista cristã, objetivando o equilíbrio entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. Mas para isso precisamos investir  em seu avanço, defendendo urgentemente uma ampla reforma política. As grandes corporações não podem manobrar os partidos políticos, a fim de obterem enriquecimento ilícito, em detrimento dos recursos que deveriam ser destinados aos mais pobres. As campanhas eleitorais precisam ser mais econômicas, com controle de financiamento público e privado. Faz-se necessário por fim à impunidade, principalmente nos casos dos crimes “de colarinho branco”.

3. A DIGNIDADE DO TRABALHO

Ao invés de furtar ou roubar, a palavra de Deus direciona o ser humano ao trabalho, ressaltando sua dignidade (I Ts. 4.10-12), qualquer prosperidade decorrente de práticas ilícitas não é benção de Deus. É vergonhoso ver supostos cristãos na mídia orando, agradecendo a Deus por uma propina recebida. Os cristãos também são responsáveis pelo bem estar cultural, social e ambiental. Desde o início Deus deu a Adão a responsabilidade lavrar e guardar o jardim do Éden (Gn. 2.15), antes mesmo da Queda. Esse princípio se aplica aos crentes dos dias atuais. A nós é dada a missão de guardar o habitat, o meio ambiente no qual nos encontramos. Não estamos isentos da atribuição de cuidar do jardim, contribuindo para o processo de redenção da natureza, que se dará plenamente por ocasião da volta de Cristo (Rm. 8.22-24). Precisamos nos opor à cobiça e ao materialismo que resulta em ansiedade, um dos males da contemporaneidade (Mt. 6.24-34). A orientação bíblica é a de demonstrar amor ao próximo, promovendo a generosidade (Mt. 22.37-40). Ninguém deve ser impulsionado à preguiça (Pv. 6.10,11), nem tão pouco fazer apologia à pobreza (Pv. 30.8,9). Não somos adeptos da teologia da prosperidade (ou da ganância), e muito menos da privação (miséria), mas da provisão necessária. Devemos trabalhar com honestidade, a fim de obter uma condição financeira suficiente para o bem estar pessoal, familiar e social (I Ts. 4.11,12), agradecendo a Deus pelo pão nosso de cada dia (Mt. 6.11), aprendendo a cultivar o contentamento (Fp. 4.12), e exercitando a generosidade (II Co. 9.6-15).  

CONCLUSÃO

Jesus foi crucificado entre dois ladrões, um a sua direita e outra à esquerda (Mt. 27.38). Não se enganem existem ladrões em todos os lados, não apenas aqueles apresentados pela mídia. Um dos ladrões reconheceu o Seu pecado, e teve tempo para se arrepender (Lc. 23.42). Por causa disso, o Senhor prometeu que esse estaria com Ele no paraíso (Lc. 23.42,43). Há esperança para aqueles que comentem o pecado do furto/roubo, como Zaqueu poderão se arrepender dos seus pecados, e encontrar salvação em Cristo (Lc. 19.10).  

BIBLIOGRAFIA

RYKEN, P. G. Os dez mandamentos para os dias de hoje. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Hagnos
ESEQUIAS, Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante MudançaEditora CPAD