terça-feira, 27 de janeiro de 2015

LIÇÃO 5 - NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR EM VÃO



INTRODUÇÃO

      Os nomes bíblicos carregam significados especiais, não se trata de uma terminologia arbitrária, mas de uma revelação do caráter da pessoa. Em relação a Deus, Seus nomes revelados na Bíblia expressam Sua natureza. Na aula de hoje estudaremos a respeito dos nomes de Deus, e dos seus significados, a partir dessa análise, compreenderemos porque o nome do Senhor não poderia ser tomado em vão, de acordo com o terceiro mandamento. Ao final, destacaremos o valor do Nome de Jesus, que é um nome que está acima de todo Nome.

1- O NOME DE DEUS

      O terceiro mandamento diz respeito ao nome do Senhor (Ex. 20.7), que não deve ser profanado. O nome de Deus foi revelado aos Israelitas, Yahweh identificou-se como o Senhor do Seu povo. A revelação desse nome ocorreu antes do povo chegar ao Sinai, quando Moisés viu a sarça ardente indagou como deveria ser referenciado o Deus que o enviaria a libertar os israelitas do Egito (Ex. 3.14,15).  O nome de Deus revelado foi um tetragrama YHWH, composto por quatro consoantes, que literalmente significa “Eu sou quem eu sou”. Esse nome identifica a auto existência divina, isso quer dizer que Yahweh – como costuma ser pronunciado o tetragrama – não depende de outros para existir. Por esse motivo o salmista declarou: “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra” (Sl. 8.1). Os israelitas não estavam sendo proibidos de chamar Deus pelo nome, tratava-se de uma orientação jurídica, isto é, o nome do Senhor não poderia ser usado para dar falso testemunho. No entanto, alguns rabinos levaram tão a sério esse mandamento que deixaram de pronunciar o tetragrama, de modo que atualmente não se sabe ao certo como esse deve ser pronunciado. O nome YHWH quando identificado na leitura costuma ser substituído por Adonai, termo hebraico que significa Meu Senhor, ou tão somente Senhor, como tem sido utilizado na tradução bíblica para o português. A proibição, portanto, não está no uso do nome, mas na sua utilização indevida.

2 - NOMES GENÉRICOS

     O nome Elohim apresenta os primeiros vislumbres da Trindade. A declaração de Gênesis 1.1; traz o verbo no singular, "criou", e o sujeito no plural Elohim, "DEUS", o que revela a unidade de DEUS na Trindade. Construção similar aparece em várias partes do Antigo Testamento: "E disse DEUS: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26); "Então disse o SENHOR DEUS: Eis que o homem é como um de nós" (Gn 3.22); "Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua" (Gn 11.7). A Trindade é vista em Elohim à luz do contexto bíblico. O Novo Testamento explicitou o que antes estava implícito no Antigo Testamento. Quando Elohim refere-se às divindades falsas traz no plural o verbo, o pronome ou o adjetivo, representando a multiplicidade. Quando, porém, aplicado ao DEUS de Israel, o verbo e o seus complementos vêm geralmente no singular.
     Os rabinos reconheceram a pluralidade neste nome, mas, como o judaísmo é uma religião que defende o monoteísmo absoluto, e não admite JESUS CRISTO como o Messias de Israel, fica difícil para eles entenderem essa pluralidade. Para explicá-la, argumentam ser um plural de majestade, mas isso é uma determinação rabínica posterior.          A definição de plural de majestade ou de excelência, como disse, foi dada pelo rabinato posterior. Disse Shlomo ibn Yitschaki, conhecido pela sigla RASHI, grande rabino e erudito judeu (nascido em 1040): "O plural de majestade não significa haver mais de uma pessoa na divindade". Essa declaração serviu para o judaísmo prosseguir sua marcha mantendo o monoteísmo absoluto sem JESUS e sem o ESPÍRITO SANTO.
        No relato da criação e em muitas outras passagens do Antigo Testamento, Elohim é nome próprio usado como forma alternativa de Javé. Segundo estudiosos do assunto, esse nome é usado para se referir à ideia obscura e mais abstrata da deidade, de um DEUS universal e Criador do mundo, indicando a transcendência da natureza de DEUS; ao passo que Javé aparece quando as características estão claras e concretas e sugere um DEUS pessoal que se relaciona diretamente com o povo.
        No capítulo um de Gênesis, DEUS aparece como o Criador do universo físico e como o Senhor do mundo, exercendo domínio sobre todas as coisas. Tudo quanto existe veio à existência por causa exclusiva de Seu fiat (poder criador), sem qualquer contato direto entre Ele e a natureza. Portanto, aplicando-se aquelas regras, aqui cabe o uso do nome Elohim .
      Elohim é um dos nomes próprios de DEUS, mas aparece como apelativo no Antigo Testamento quando se refere a divindades falsas, por exemplo os deuses do Egito (Êx 12.2) e de outras nações (Dt 13.7,8; Jz 6.10). A palavra é usada com relação às imagens dos cultos pagãos (Êx 20.23). As Escrituras fazem uso irregular de Elohim em referência a seres sobrenaturais (1 Sm 28.13) e juízes (SI 82.6). Aparece também, cerca de 20 vezes, com relação às divindades pagãs individuais.

3 - A REVERÊNCIA AO NOME DE DEUS

        Respeito pelo Nome Divino. Acima de todos os outros povos, os hebreus respeitavam e temiam a DEUS. Por essa razão, não usavam o nome de DEUS frivolamente. Eles pronunciavam os nomes de DEUS com alterações que lhes permitiam não terem de verbalizar os sons exatos desses nomes. Os escribas registravam os nomes de DEUS lavando freqüentemente as mãos. Um dos mandamentos mosaicos, o terceiro, proibia o uso frívolo do nome divino (Êx. 20.7). Sabemos que as culturas antigas acreditavam no poder espiritual dos nomes. Saber qual o nome de uma divindade, ou de um demônio, supostamente dava à pessoa certo poder sobre essa divindade ou demônio, em momentos de necessidade. No caso dos demônios, o conhecimento dos nomes deles poderia ser um meio de expeli-los. Esses fatos demonstram o respeito que algumas pessoas tinham pelos nomes, e talvez esse fosse um dos motivos pelo extremo respeito que os judeus tinham pelo nome divino. No judaísmo posterior, encontramos o uso espiritual de nomes; mas não temos evidências a esse respeito quanto à primitiva cultura judaica, embora isso deva ter existido em algum grau e de alguma maneira.
        O nome do Senhor deveria ser reverenciado, não apenas por aqueles que lidam com a justiça, mas também pelos profetas. O uso inapropriado da expressão “assim diz o Senhor”, sem que Deus tivesse falado se constituía em pecado (Jr. 14.14,15). Aqueles que falam nas igrejas e nos púlpitos, em nome do Senhor, devem estar conscientes dessa responsabilidade. Trata-se de um perjúrio usar o nome de Deus para declarar algo que Ele não revelou, ou mesmo para prometer fazer algo que não será cumprido (Lv. 19.12). Isso deve ser considerado porque o nome de Deus é Maravilhoso (Jz. 13.17; Is. 9.6,7), portanto Jesus nos ensinou que todos devem reconhecer que o Nome de Deus é Santo (Mt. 6.9). O livro dos Salmos nos instrui a dar glória ao nome do Senhor (Sl. 29.2), e a cantar glória ao Seu nome (Sl. 72.19), a bendizer o Seu Santo Nome (Sl. 103.1). O nome do Senhor não deve ser profanado, antes invocado (Gn. 4.24), e digno de confiança (Is. 50.10), além de ser considerado glorioso (Dt. 28.58). A grandeza de Deus deve ser motivo para a reverência em relação ao nome do Senhor, ninguém deve usar Esse Nome indevidamente.         O Nome de Deus não deve ser motivo de piadas, muito menos de blasfêmias. Mas não nos compete julgar, muito menos tomar atitudes agressivas em relação àqueles que profanam o Nome do Senhor, pois a Deus pertence à vingança, não a nós (Rm. 13.1).

4 - NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR EM VÃO

          Será que este mandamento se refere a apenas dominarmos a nossa língua para não misturarmos o nome de DEUS em expressões banais, tais como: "Meu DEUS do Céu", "DEUS é brasileiro", "Ai meu DEUS" ou "Por DEUS"? Ou ainda "Se DEUS quiser", "Que DEUS te ajude e a mim não desampare"? Será mesmo que o terceiro mandamento se refere exclusivamente a esses ditados populares que sequer existiam na época em que ele foi proferido por DEUS?
         Quando estudamos a natureza da religião egípcia dirigida por Faraó, percebemos que o rei fazia tudo em nome do seu deus. Muitos eram os deuses do Egito: deuses Rá, Osíris, Amon, Serápis e muitos outros. Faraó se declarava o dono da terra, das suas colheitas e, em nome do seu deus, ele se via o dono do povo egipciano.
          As guerras e os roubos das nações eram feitos em nome desses deuses. O culto aos deuses egípcios encobria as maldades, perversidades, riquezas palacianas, mentiras e a escravidão da realeza. Tudo era legitimado pelo culto prestado a tais divindades. Uma prática normal que, mais tarde, influenciou as nações da região de Canaã. O problema de legitimar todas as práticas de Faraó em nome de um deus é que o rei não estava interessado em saber qual era a real vontade desta suposta divindade, mas apenas usar o seu nome para legitimar todo o seu projeto de poder real. Com o DEUS de Israel, o seu nome não poderia ser tomado em vão.
         O povo de Israel não poderia usar o nome de DEUS para reproduzir o mesmo modelo enganador de Faraó. O Criador não estava interessado que o Seu nome fosse usado para legitimar interesses de autoridades reais, mas que, de fato, colocassem em prática a sua suprema vontade. Ele não estava disposto a servir aos interesses do povo, mas o povo deveria viver os Seus interesses.
          DEUS revelou o Seu nome a Moisés: "EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós [...] o DEUS de vossos pais, o DEUS de Abraão, o DEUS de Isaac e o DEUS de Jacó me enviou até vós. Este é o meu nome eternamente" (Êx 3.14,15). Ele é o EMANUEL, o DEUS conosco. Mais tarde os líderes usaram o nome de DEUS em vão, sistematicamente, colocando sobre o povo uma carga que nem eles aguentavam (Mt 23.4). Proposições que em nada tinham haver com a vontade de DEUS, a sua justiça, misericórdia e amor (Mt 23.23-24). Eles banalizaram o nome de DEUS! Mas JESUS é o santo nome, o DEUS Conosco, a plena revelação da divindade. O nome que revela amor, justiça e misericórdia.

5 - EM NOME DE JESUS

        O nome do Senhor não apenas deve ser mencionado através dos nossos lábios, como esse Nome reflete a identidade de um Deus de amor e graça, devemos viver para Ele e tudo o que fizermos, devemos fazer em Seu Nome (Cl. 3.17). Isso também é motivo para temer o Deus de Israel, inclusive o nome do Senhor Jesus. O pecado de Ceva, ao usar o nome de Jesus indevidamente, deve servir de alerta para aqueles que se apropriam desse Nome para satisfazer interesses pessoais (At. 19.17). O nome de Jesus tem autoridade especial para Sua igreja, não se trata de um amuleto, como querem defender alguns adeptos da Confissão Positiva. É preciso ter cuidado, pois nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor têm parte no evangelho de Cristo (Mt. 7.21-23). O nome de Jesus tem autoridade porque Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome (Fp. 2.9). Por isso, diante dEle deve se dobrar todo joelho dos que estão no céu e na terra (Fp. 2.10,11). Jesus é um nome que salva os pecadores, pois todos aqueles que O invocam encontram vida eterna (At. 4.12; Rm 10.13; I Jo. 5.13). Em nome dEle recebemos o batismo, fomos imersos no Seu corpo, fazendo parte da comunidade dos santos (Mt. 28.19). A santificação, operada em nós pelo Espírito Santo, acontece em nome de Jesus (I Co. 6.11). Infelizmente o nome de Jesus tem sido usado para fins interesseiros no contexto evangélico. Há quem o faça em forma de jargão “Em o nome de Jesus”, sem dar ao Senhor a glória, a honra e a autoridade que Lhe é própria.

CONCLUSÃO



       O nome de Deus é significativo porque revela Sua natureza, a maneira como Ele se mostra através da Palavra. Ele não é apenas Elohim, o Deus Criador (transcendente), é também, Yahweh (imanente), o Deus que se envolve. A maior prova do interesse de Deus por nós é a vinda de Jesus, um Nome que está acima de todo e qualquer nome. Em Seu Nome temos a segurança de que somos aceitos por Deus, de Quem agora podemos nos aproximar chamando - o de Pai (Rm. 8.15-17).

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos.
Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 61.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

LIÇÃO 4 - NÃO FARÁS IMAGENS DE ESCULTURAS




INTRODUÇÃO


Na aula de hoje estudaremos o segundo mandamento, que diz respeito à interdição da idolatria à verdadeira adoração. Conforme estudamos na lição anterior, há apenas um Deus, e Esse revelou o modo que deveria ser adorado. Inicialmente destacaremos a gravidade do pecado de idolatria, em seguida, meditaremos a respeito do fundamento evangélico para a genuína adoração a Deus: em espírito e em verdade.


1. IMAGENS E IDOLATRIA


O povo de Israel estava rodeado de falsos deuses, isso se intensificaria após a entrada na Terra Prometida. No Egito, e entre as nações com as quais Israel iria se relacionar, o culto aos deuses através de imagens de esculturas era bastante comum. Os egípcios adoravam Apis, Horus, Anubis, entre outros deuses, e todos eles eram representados por meio de figuras de animais. Mas o Deus que havia tirado Seu povo do Egito, e o libertado da escravidão, não admitia ser comparado a qualquer imagem de escultura (Ex. 32.6). Esse ensinamento deveria ser observado pelo povo escolhido de Deus. No período da Reforma, principalmente entre os seguidores de João Calvino, essa doutrina foi retomada ímpeto, a fim de contrapor-se ao uso de imagens pelo Catolicismo Romano. Os reformadores argumentavam, com propriedade e fundamentação bíblica, a rejeição da adoração de imagens. O ídolo – pessel em hebraico – é terminantemente proibido na religiosidade judaica (Dt. 4.15-31). O fundamento para essa interdição estava no fato de Deus ter se revelado de modo que o povo não identificou uma forma física – temunah em hebraico - quando o Senhor se revelou em Horebe (Dt. 4.15). As consequências da idolatria no meio daquele povo seria uma abominação, que o levaria à destruição (Dt. 4.26). Deus havia estabelecido um concerto com Seu povo, a construção de ídolos e a adoração a eles significaria uma ruptura desse pacto (Dt. 4.31). Os profetas de Israel e Judá chamariam a atenção do povo, advertindo-o quanto ao perigo da idolatria (Is. 43.16), e reclamando a adoração ao Único e Verdadeiro Deus (Is. 44.9-20).


2. O PECADO DA IDOLATRIA


A adoração aos ídolos representava, por conseguinte, um perigo para o povo de Israel, isso porque se tratava de um pecado. O Deus que tirou os israelitas do Egito não poderia ser assemelhado a qualquer imagem, do céu e muito menos da terra. Prostrar-se diante de uma imagem de escultura sempre foi considerada uma transgressão à revelação do Senhor, que se manifesta na Palavra, na Torah. As religiões das imagens costumam substituir a palavra pelos ícones, ou mesmo pelos ídolos. Mas a igreja cristã não pode se distanciar da Palavra de Deus, ninguém deve fundamentar sua adoração a Deus com meio visíveis. Existe uma tentativa de atenuar esse pecado trocando a palavra “adorar” por “venerar”, mas essa substituição não têm diferença semântica. Dobrar-se diante de uma imagem de escultura é pecado, ao longo da Bíblia os escritores se opõem a esse tipo de idolatria (Sl. 115). No Novo Testamento, o ídolo também é reprovado, e sua adoração terminantemente proibida (I Co. 10.14; I Jo. 5.21). Em consonância com a revelação do Antigo Testamento, o Deus que se revela na Palavra é zeloso – qanna em hebraico – e por ser único não admite ser confundido com outros deuses, muito menos ser representado em semelhança de coisas terrestres. Esse pecado seria punido, dentro da expressão de fé judaica, até a “terceira e quarta geração” (Ex. 20.5; Dt. 5.9). Evidentemente essa declaração não pode ser interpretada literalmente, trata-se de uma figura de linguagem hebraica (Am. 1.3-13; Pv. 30.15-29). Esse pecado pode ser perdoado, contanto que o idólatra reconheça sua transgressão e se volte para o Senhor, que é misericordioso (Ex. 20.6; Dt. 5.10).


3. A VERDADEIRA ADORAÇÃO


A adoração a Deus deve está fundamentada na revelação, ninguém pode se prostrar diante de um deus estranho. Somente o Deus das Escrituras é digno de honra, glória e louvor, não há outro além dEle (Is. 44.8). A adoração a imagens de esculturas é um reflexo da queda do ser humano, que se nega a cultuar a Deus espiritualmente. Quando se afasta da Palavra de Deus, o homem acaba por construir seus ídolos, de acordo com seus interesses pessoais. Jesus declarou que Deus é Espírito, portanto deve ser adorado espiritualmente (Jo. 4.24). O espírito não é uma substância material, não tem carne nem ossos (Lc. 24.39). Trata-se de uma Deus Invisível, e por conseguinte, somente pode ser adorado espiritualmente (Cl. 1.15; I Tm. 1.17). Mas é preciso ter cuidado pois esse Deus também é verdadeiro, por isso somente pode ser adorado por meio da Verdade. Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo. 14.6), a Palavra de Deus é a Verdade (Jo. 17.17). Por isso, a adoração a Deus não pode ser mero misticismo, muitas pessoas reconhecem que Deus é Espírito, mas querem adorá-Lo sem fundamentação escriturística. É preciso ressaltar que Deus busca adoradores, e os adoradores que Ele busca, sabem que se trata de uma adoração pessoal (Jo. 4.23). A adoração espiritual e verdadeira acontece por meio da revelação das Escrituras a respeito de Jesus Cristo (Hb. 1.1,2). Essa adoração independe de lugares, não é o espaço e a condição física que determina a adoração, mas a verdade bíblica e a disposição espiritual.


CONCLUSÃO


A adoração a Deus não depende de imagens de escultura, ou de qualquer construção humana, mesmo que essa seja mental. Algumas pessoas não adoram ídolos feitos de material físico, mas acreditam em um deus que não passa de uma representação mental. O Deus da Bíblia é Espírito, portanto deve ser adorado como Tal. Para adorá-lo, devemos seguir os passos de Cristo, que é a Verdade, nEle nossa adoração é real, e aceita por Deus, que se compraz no Seu Filho (Mt. 3.17).


BIBLIOGRAFIA


GUNDRY, S.  Lei e evangelho. São Paulo: Vida, 2001.
SOARES, E.  Os Dez Mandamentos. São Paulo: Cpad, 2014.
CHAMPLIN, N. ENCICLOPÉDIA DE BÍBLIA, TEOLOGIA E FILOSOFIASão Paulo: HAGNOS, 2005


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

LIÇÃO 3 - NÃO TERÁS OUTROS DEUSES



INTRODUÇÃO

O primeiro mandamento coloca Deus em evidência, somente Ele não outro deus deve ser adorado, e reconhecido como tal. Na aula de hoje mostraremos que existe apenas um Deus, o Único Criador do céu e da terra. Em seguida, destacaremos a exclusividade do Deus de Israel que não pode ser confundido com outros deuses. Finalmente, alertaremos a respeito dos perigos da idolatria, ressaltando o risco de se voltar para deuses construídos pelos homens.
O Decálogo é monoteísta e introduz essa doutrina no sistema mosaico que influenciou o pensamento teológico dos antigos hebreus, vindo a se culminar com a manifestação do Filho de Deus. O monoteísmo aqui era uma inovação, visto que as nações da época eram politeístas. A Mesopotâmia é o berço da civilização humana e o centro irradiador da idolatria. A terra do Nilo foi grandemente afetada por essa idolatria. E Israel e seus ancestrais tiveram vínculos com as culturas mesopotâmica e egípcia.

1. UM DEUS ENTRE OUTROS DEUSES

O povo de Israel estava acostumado a viver entre outros deuses, sua estada no Egito favoreceu o contato com o pluralismo religioso. Mesmo com a revelação divina, que alertava a respeito dos riscos da idolatria, o povo continuou se voltando para deuses estranhos (Ez. 20.7,8). Ainda que o Senhor tenha libertado os israelitas do Egito, eles continuaram se prostrando diante dos ídolos, demandando um julgamento da parte de Deus (I Rs. 9.4-7). A mensagem das Dez Palavras que se encontra em EX. 20.3 é repetida em Dt. 6.4,5. A declaração de fé do povo de Deus deveria ser: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder”. A relação de Israel com Deus não estava baseada na imposição, mas no amor que reconhecia o livramento do Senhor da servidão. Ainda hoje o reconhecimento é a base do relacionamento com Aquele que se denomina de “Eu”. Por isso ninguém deve se relacionar com Deus com base no medo, na obrigatoriedade, pois se assim acontecer, o resultando será mero legalismo. Além disso, o princípio monoteísta é ressaltado ao longo das Escrituras. O Deus de Israel, que por sua vez é também dos cristãos, não dá a Sua glória a outro (Is. 42.8). Em um momento marcado pela idolatria em Israel, o Senhor assim revelou através do profeta Oséias “Não reconhecerás outros deus além de mim, porque não há salvador, senão eu” (Os. 13.4). O relativismo pós-moderno tem apregoado o pluralismo religioso, e defendido que todas as divindades devem ser igualmente adoradas.

2. A EXCLUSIVIDADE DO DEUS DE ISRAEL

O Deus das Escrituras é Único, é Singular, não pode ser considerado apenas um entre outros deuses (Is. 45.21). Essa mensagem é enfatizada por Paulo, ao argumentar que “não há outro Deus, senão um só” (I Co. 8.4). Como se costuma afirmar, é possível que todos os caminhos levem a Roma, mas há apenas um Mediador entre Deus e os homens, Jesus (Jo. 14.6; II Tm. 2.5) e somente no nome dEle há salvação (At. 4.12). Devemos respeitar as pessoas, nos compete pregar o evangelho. Ninguém deve ser menosprezado por causa da fé que expressa. Se nós, como evangélicos, quisermos respeito, precisamos respeitar os outros. No entanto, temos a responsabilidade de testemunhar com amor a exclusividade da salvação em Cristo. A mensagem do evangelho, ao contrário do que defendem os adeptos da pós-modernidade, não é excludente, mas includente. A palavra de Deus é includente, pois  a agrega à igreja todas as pessoas que creem, salvando-as da condenação (Jo. 3.16). As pessoas religiosas, ainda que bem intencionadas, estão debaixo da ignorância (At. 17.30). Elas não estão servindo a Deus, mas a ou outros deuses, até mesmo ao próprio ego, entenebrecidos por Satanás (Gl. 4.8; II Co. 11.13-15). Como orientou Moisés ao povo de Israel, as pessoas devem ser instadas a deitar fora os deuses aos quais serviram seus pais, e fazerem uma opção pelo Único Deus Vivo e Verdadeiro (Js. 24.14,15; I Ts. 1.9). A posição da igreja é profética, por isso, tal como fez Elias, deve declarar que somente o Senhor é Deus (I Rs. 18.21). Nenhum ídolo pode ocupar o coração do homem, APENAS Deus é digno de honra e glória, e deve ser adorado em espírito e em verdade (Jo. 4.24).

3. O PERIGO DA IDOLATRIA

A idolatria é perigosa porque nem sempre nos apercebemos da sua atuação, às vezes ela chega sorrateiramente. Frequentemente acusamos as pessoas de adorarem outros deuses, mas não observamos que podemos fazer o mesmo. Jesus chamou a atenção em relação ao dinheiro, que pode se tornar um deus (Mt. 6.24). Quando afirmamos que somente o Senhor é Deus, e que não deve existir outro, precisamos também indagar se não estamos construindo nossas divindades. Há pessoas que imagem ser um deus, na ambição dos nossos primeiros pais, que quiseram ser iguais a Deus (Gn. 3.5). O contexto evangélico está sendo solapado pela idolatria, estamos nos acostumando a aceitar pessoas com status de divindade nas igrejas. Alguns crentes ao invés de adorarem a Deus, estão adorando pastores, cantores e pregadores. As chamadas celebridades gospel estão fazendo fortuna em nome da fama que construíram. Salomão pagou um alto preço por causa da sua idolatria. As Escrituras dizem que ele andou em seguimento de Astarote, deusa dos sidônios, e de Milcom, a abominação dos amonitas (I Rs. 11.5). Por causa da sua idolatria, o monarca de Israel perdeu o seu reino, a causa foi justamente a desobediência ao primeiro mandamento (I Rs. 11.9-11). A ânsia para se manter no poder a qualquer custo fez com que Salomão fizesse concessões em relação a seus princípios. A fama tornou-se um fim em si mesmo, e os conchavos políticos resultaram em casamentos mistos, com mulheres que perverteram o coração do rei (I Rs. 11.1-3). A idolatria, às vezes, acontece sorrateiramente, sem que atentemos para sua realidade. Por isso não devemos tolerar o pecado em nós, muito menos que nada se coloque no lugar que pertence exclusivamente a Deus.

CONCLUSÃO

O povo de Israel conviveu com muitos deuses, mas precisou ser lembrado que somente Yahweh era o Único Senhor. De igual modo, devemos ter cuidado com o perigo da idolatria que roda a igreja contemporânea. Ainda no primeiro século da era cristã, João advertiu, para que os crentes se guardassem dos ídolos (I Jo. 5.21). Ninguém pode tomar o lugar de Deus em nossas vidas, somente Ele é digno do nosso amor, respeito e consideração. Adorá-lo é o motivo para o qual fomos criados, e não podemos fazer de qualquer modo, somente por meio de Cristo, em espírito e verdade (Jo. 4.24).

BIBLIOGRAFIA

GUNDRY, S. (Org.) Lei e evangelho. São Paulo: Vida, 2001.
SOARES, E.  Os Dez Mandamentos. São Paulo: Cpad, 2014.
CHAMPLIN, N. O Antigo Testamento Interpretado Versiculo por Versiculo. São Paulo: HAGNOS, 2005

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

LIÇÃO 2 - O PADRÃO DA LEI MORAL




INTRODUÇÃO

       Na aula de hoje nos voltaremos para os fundamentos da lei moral, ou melhor, da torah divina, ressaltando suas aplicações para os dias de hoje. Inicialmente colocaremos as dez palavras, ou mandamentos, no contexto israelita. Em seguida, apontaremos as possibilidades de uso da torah no contexto eclesiástico. Por fim, ressaltaremos os aspectos interpretativos em relação às dez palavras.

1. AS DEZ PALAVRAS

      A expressão “as dez palavras”, em hebraico, asseret hadevarim, revelam o aspecto diretivo da lei divina. Em poucos termos o Deus de Israel se volta para Seu povo, a fim de que esse saiba como se conduzir. Essas palavras tinham como objetivo preservar a nação que estava em construção, para que não se perdesse, em razão dos seus pecados. A origem dessas palavras está no próprio Deus, pois em Ex. 20.1 está escrito “Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo”. Trata-se, portanto, de uma revelação, que deve ser acatada com humildade, sobretudo com gratidão. O Senhor Deus, que tirou o povo do Egito, da casa da servidão, é o mesmo que oferece o caminho para uma vida próspera (Ex. 20.2). Ele exige exclusividade, que Israel não tenha outro Deus além dEle (Ex. 20.3).   
    Sendo o Único e Verdadeiro Deus, deve ser adorado em conformidade com Sua revelação (Ex. 20.4). Seu nome não pode ser tomado em vão (Ex. 20.7), e que é Senhor do tempo, por isso devemos dedicar momentos para o descanso e a contemplação (Ex. 20.7).       Deus exige que haja respeito às autoridades, a começar pelo lar no qual os filhos devem honrar seus pais (Ex. 20.12). A vida tem valor primordial para Deus, por isso ninguém deve tirá-la (Ex. 20.13). O sexo foi criado por Deus, mas não pode ser usado indevidamente, por isso o Senhor dá orientações contra o adultério, preservando, assim, o matrimônio (Ex. 20.14). O Deus que se revelou no Sinai é Verdadeiro, por isso exige que Seu povo fale a verdade, não dando falso testemunho (Ex. 20.16). O princípio da propriedade também é respeitado, por isso ninguém deve se apropriar do que é do outro (Ex. 20.15). Ao mesmo tempo, espera-se que as pessoas cultivem o contentamento, e não se deixem conduzir pela cobiça (Ex. 20.17).

2. A UTILIDADE DA TORAH

     A torah de Deus é boa, o problema não está com a lei (I Tm. 1.8), antes com o ser humano, por causa da sua condição pecaminosa. Existe um problema na supervalorização que se está dando à doutrina da graça e do amor divino nos dias atuais. Por causa disso, estão transformando o evangelho naquilo que Bonhoeffer denominou de “graça barata.              Ninguém deveria receber a graça sem antes conhecer a força da lei. Como diz o hino da Harpa Cristã: “mais um dia senti meu pecado e vi sobre mim a espada da lei, apressado fugi em Jesus me escondi, e abrigo seguro nEle achei”. Existe uma dialética na torah, ao mesmo tempo em que ela exige santidade, é incapaz de fazer com que a pessoa se torne santa. Por isso a lei revela a necessidade de uma Salvador. É a partir do conhecimento, não apenas intelectual, sobretudo experiencial, que podemos encontrar a verdadeira liberdade (Jo. 8.36). É na liberdade que Cristo nos dá (Gl. 5.13) que passamos a viver como servos (I Pe. 2.16). A expressão maior dessa liberdade é o amor, pois a torah se cumpre no amor (Gl. 5.14; Mt. 22.37-40; Jo. 14.15). O evangelho de Jesus nos impulsiona à obediência em amor. Paulo explica aos romanos que “veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm. 5.20,21). Isso acontece porque ninguém é capaz de obedecer a torah, nenhuma carne pode ser justificada pelas obras da lei, por ela vem apenas o conhecimento do pecado (Rm. 3.20).

3. A INTERPRETAÇÃO DA TORAH

    Uma interpretação cristocêntrica da torah é necessária, para evitar os extremos do legalismo, que muito prejudicou as igrejas da região da Galácia (Gl. 1.7-9; 3.1-3). A orientação fundamental é considerar a norma hermenêutica: A Bíblia interpreta a Bíblia.           Avaliar passagens correlacionadas, respeitando o contexto, é um cuidado que todo intérprete das Escrituras deve ter. Se toda a lei se resume no amor, não podemos fugir desse princípio hermenêutico (Rm. 13.10). Isso não quer dizer que devemos desconsiderar a lei, muito menos a necessidade de disciplina quando essa for necessária (I Co. 5.1-13)          Mas também devemos atentar para o fato bíblico de que todos pecaram (Rm. 3.23), e que se tornaram carentes do dom gratuito de Deus (Rm. 6.23). Ao mesmo tempo em que devemos envidar todos os esforços para obedecer a torah, dependendo principalmente do fruto do Espírito (Gl. 5.16-22), devemos saber que somos limitados, e que podemos nos tornar culpados de todos, ainda que venhamos a tropeçar em apenas um dos seus itens (Tg. 2.10). Por isso não podemos perder Jesus de vista na interpretação da torah, pois o fim da lei é Cristo (Rm. 10.14), tendo Ele nascido sob a lei (Gl. 4.4), cumprido sua justiça (Mt. 3.15), e não cometendo pecado (I Pe. 2.2). Jesus foi crucificado “para que a justiça da Lei se cumprisse em nós” (Rm. 8.4). A morte de Cristo na cruz do calvário é a certeza da nossa salvação. Porque Ele cumpriu a Lei, vivemos pela fé, na esperança que se consumará na eternidade. Como diz a letra de um hino antigo, “a cruz foi a caneta que escreveu com sangue tua salvação”.


CONCLUSÃO

      Jesus é o padrão da lei moral, é o Exemplo a ser seguido, Deus não espera menos de nós. Cada dia, na comunhão com o Espírito Santo, somos direcionados a imitar o caráter de Cristo. Nas palavras de Paulo esse é um “andar no Espírito”. Não podemos perder o alvo de vista, por isso, se esquecendo das coisas que para trás ficam, sigamos adiante com os olhos fitos em Cristo (Fp. 3.13,14), sabendo que Ele é o Autor e Consumador da nossa fé (Hb. 12.2).

BIBLIOGRAFIA

GUNDRY, S. (Org.) Lei e evangelho. São Paulo: Vida, 2001.
SOARES, E.  Os Dez Mandamentos. São Paulo: Cpad, 2014.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

LIÇÃO 1 - DEUS DÁ SUA LEI AO POVO DE ISRAEL




INTRODUÇÃO

   Neste trimestre estudaremos a respeito dos dez mandamentos, enfocando primordialmente sua relação com a igreja de hoje. Existem diferentes abordagens bíblico-teológicas quando à aplicação do decálogo na atualidade. Ao longo das aulas, adotaremos uma perspectiva evangélica, isto é, que considere o contexto no qual a torah foi revelada, mas que seja aplicado de acordo com os princípios cristãos.

1. CONCEITO BÍBLICO-TEOLÓGICO DE LEI

      O uso desse termo sempre esteve relacionado às instruções diárias de Deus para o Seu povo. A torah orientava todos os aspectos da vida do povo israelita. E essa não era dos homens, mas do próprio Deus, que fala pessoalmente a respeito da “minha torah” (Ex.16.28; Sl. 78.1; 89.20; Is. 51.4,7). Além da torah, Deus estabeleceu seus estatutos – hoq em hebraico – às observâncias religiosas associadas aos levitas (Ex. 20.31; Lv. 6.18; 10.15). Para a cultura popular, particularmente a religiosa, a lei é negativa, pois impõe limites às atitudes humanas. Para os escritores bíblicos, a torah é positiva, pois mostra a vontade soberana de Deus para o bem do povo. Deus revelou a Sua torah para o bem daqueles que foram chamados por Ele (Jr. 31.33). Os salmos, a maioria deles da autoria de Davi, celebram a beleza da torah de Deus (Sl. 1; 19; 119). No Novo Testamento, a nomos – lei em grego – diz respeito à torah, isto é, aos primeiros cinco livros da Bíblia, também denominado de Pentateuco, e por extensão a todos os escritos do Antigo Pacto (Mt. 5.17; Jo. 1.17; Rm. 3.21). A nomos, tal como a torah, diz respeito também às regras e ordenanças de Deus ao Seu povo (Jo. 7.19; At. 15.5). Mas as pessoas, ao contrário do que defendem alguns religiosos, não são salvas pela nomos, mas pela graça de Deus, manifestada em Cristo (Ef. 2.8-10). As Epístolas de Romanos e Gálatas, escritas por Paulo, refutam o argumento religioso da salvação guarda da torah/nomos (Rm. 3.28; Gl. 2.16)   
       Ainda que a torah/nomos não salve, aquele que crê obedece, não para a salvação, mas porque foi salvo. A anomia, expressão da língua portuguesa que vem de a (negação) nomia (lei) não se coaduna com o caráter cristão, não se pode viver “sem nomos” (Rm. 2.12). Paulo esclarece essa nova condição ética em Rm. 6.15, ao indagar: “Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da nomos, mas debaixo da graça?” Ele mesmo responde: “De modo nenhum”.

2. A PRINCÍPIO DA LEI DE DEUS PARA OS ISRAELITAS

         O livro do Êxodo põe em evidência as dez palavras, fundamentadas na aliança com o povo de Deus com o povo de Israel. A importância desse código para aquele povo é ressaltada pelo fato de aparecerem duas vezes no Pentateuco (Ex. 20 e Dt. 5). O princípio da lei se encontra em Gn. 2.9-16, nas instruções dadas a Adão e Eva no Jardim (Gn. 2.17).       Essas são palavras do próprio Deus, isso é confirmado em Dt. 5.22, que se revela como o Eu Sou (Ex. 3.13,14).  O fundamento dessas dez palavras é a santidade, primeiramente a de Deus, que demanda uma resposta do Seu povo (Lv. 19). Os feitos de Deus também determinam a exigência da torah, pois o Senhor libertou Seu povo do Egito (Ex. 3.15). A torah, por conseguinte, decorre da graça de Deus, pois primeiramente Ele salvou o povo, a fim de que esse fosse preservado (Dt. 4.1). Contrariando a interpretação legalista da torah, a lei deve ser percebida como um ato de liberdade, não de escravidão (Tg. 1.25). Por isso, assim como fez o salmista, o ouvinte da torah deve se expressar seu amor pela revelação de Deus (Sl. 119.97). Esse é um tema recorrente nos livros poéticos, tendo em vista que, para esses autores, a tora do Senhor é lâmpada e Suas correções o caminho para a vida (Pv. 6.23). A base do decálogo é relacional, pois enfatiza o relacionamento do homem com Deus (1 ao 4) e com outros homens (6 ao 10). Por esse motivo Jesus sumarizou essas palavras à obediência de coração (Mt. 5.21-30; Mt. 22.38,39).

3. APLICAÇÕES PARA A LEI DE DEUS HOJE

       Essas palavras consideram inicialmente que o Deus de Israel não é apenas um deus, é O Deus entre muitas supostas divindades, podendo, assim, exigir exclusividade (I Co. 8.5). Nossas mentes e corações devem está cheios daquilo que o Senhor falou (Dt. 4.12-19), esse é o fundamento dos três primeiro mandamentos, o reconhecimento de que Deus é Espírito, portanto deve ser adorado em espírito e em verdade (Jo. 4.23-24), considerando que Sua palavra deve habitar em nós (Cl. 3.16). O quarto mandamento diz respeito à condição humana diante de Deus, devemos saber que não somos máquinas, por essa razão, precisamos ter momentos de contemplação, para nos voltar para Aquele que é nosso verdadeiro descanso. Trata-se de um ato de imitação, pois o próprio Deus descansou (Gn. 2.1-3). As palavras de Deus identifica nossa natureza redimida (Ef. 4.20-24), por isso devemos honrar nossos pais, a família deve ter preeminência nos relacionamentos. A paternidade deriva de Deus, isso é motivo suficiente para os filhos honrarem seus pais (Ef. 3.15). A vida tem é valiosa aos olhos de Deus, isso porque somos a imagem de Deus (Gn. 5.1; 9.6). Esse é um princípio que dignifica o ser humano, por isso os servos de Deus serão sempre pró-vida. Outro princípio estabelecido no decálogo é o da propriedade privada, sendo assim, as relações comerciais e econômicas devem ser respeitadas. Mas o dinheiro não deve ser colocado acima das pessoas, na verdade, caso é preciso ter cuidado para esse não tomar o lugar de Deus (Mt. 6.24). Conforme adverte o apóstolo Paulo, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tm. 6.10). Nesse contexto, o contentamento deve ser cultivado, a cobiça não deve ter lugar no coração daqueles que amam a Deus (I Tm. 6.6). Em um mundo pautado pela mentira, o respeito à verdade deve ser estimulado, afinal, o Deus a quem servimos não é de mentira (Tt. 1.2).

CONCLUSÃO

      Os dez mandamentos, ou mais propriamente, as dez palavras, foram dadas a Israel, em consonância com a aliança estabelecida por Deus com aquele povo. Mas essas instruções, ressaltando a propriedade do termo torah em hebraico, podem ser aplicadas à igreja nos dias atuais. O princípio norteador da torah se encontra nas palavras de Cristo, que a corroborou destacando o amor como fundamento das relações entre o homem e Deus e com os outros homens (Mt. 22.37-39).

BIBLIOGRAFIA

FEINGERB, J. S. Continuidade e descontinuidades. São Paulo: Hagnos, 2013.
GUNDRY, S.  Lei e evangelho. São Paulo: Vida, 2001.