sexta-feira, 18 de julho de 2014

Lição 3 - A Importância da Sabedoria Humilde

A IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA HUMILDE
Texto Áureo Pv. 4.6 – Leitura Bíblica Tg. 1.5; 3.13-18



INTRODUÇÃO
Os cristãos do primeiro século enfrentaram perseguições, por causa disso alguns deles abandonaram a fé, e retornaram às práticas judaicas. Tiago, em consonância com o autor da Epístola aos Hebreus, conclama seus leitores a permanecerem firmes. O primeiro apela à sabedoria do alto, que se materializa na disposição para enfrentar a provação, sem negar a fé. Na aula de hoje estudaremos a respeito dessa sabedoria, que deve ser demonstrada, sobretudo, em humildade, na confiança em Deus, que é o provedor dessa sabedoria, diferente da humana ou diabólica.

1. SABEDORIA DO ALTO NA PROVAÇÃO
A falta de maturidade é uma demonstração de ausência de sabedoria, aqueles que não sabem lidar com as adversidades revelam infantilidade. Jó é um exemplo bíblico de sabedoria na provação, ao invés de blasfemar contra Deus, prostrou-se em terra em adoração, e disse: “nu sai do ventre da minha mãe, e nu partirei, o Senhor o deu, o Senhor o levou, louvado seja o nome do Senhor” (Jó. 1.20). Esse tipo de cristão está em extinção nos dias atuais, isso porque a ênfase no hedonismo está favorecendo um tipo de fé superficial, que beira à mediocridade, que não admite passar por situações adversas. Para Tiago a verdadeira sabedoria, tal como aquela expressa nos Provérbios, é prática e tem a ver com a convicção de fé, mesmo quando as coisas não acontecem do jeito que desejamos. O insensato, em Provérbios, é aquele que deixa de reconhecer suas limitações, que se fundamenta na autossuficiência, que acha que pode descartar Deus (Pv. 26.12). Existem esses até mesmo entre os que se dizem cristão, tais precisam pedir sabedoria para enfrentar os momentos difíceis, ao invés de negá-los. A palavra pistis em grego, geralmente traduzida por fé, traz nessa Epístola, a conotação de fidelidade. Para Tiago ter fé é mais do que acreditar, trata-se de uma disposição para enfrentar a provação. A demonstração da fidelidade resulta em obediência (Tg. 2.14), que não se deixa mover pelas circunstâncias (Tg. 1.6). Como fez Salomão, devemos pedir a Deus a sabedoria necessária para fazer a diferença entre a verdade e o engano (II Rs. 3.7-9). A sabedoria que o monarca recebeu era de Deus, não dos homens.  De vez em quando os cristãos são rotulados de ignorantes, e isso tem um fundo de verdade. Deus destrói a sabedoria dos sábios segundo o mundo, que fundamentam seus argumentos em axiomas. Por isso, para aqueles que não confiam nas promessas de Deus, a mensagem da cruz é totalmente absurda (I Co. 1.24-26). A loucura da pregação nos convida a confiar no Senhor, de todo coração e a não nos apoiar em nosso próprio entendimento (Pv. 3.5,6).

2. O VALOR DA SABEDORIA DO ALTO
A importância da sabedoria para o cristão é o próprio Jesus Cristo, nEle estão escondidos todos os tesouros da sabedoria (Cl. 2.3; I Co. 1.24).  O autor de Provérbios encerra em poucas palavras seu valor: “Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento, pois a sabedoria é mais proveitosa do que a prata e rende mais do que o ouro [...] a sabedoria é árvore que dá vida a quem a abraça; quem a ela se apega será abençoado (Pv. 3.13,14,18). Essa sabedoria não é terrena, ou melhor não é deste mundo (Tg. 3.15), que é pura tolice, ao ser comparada com a sabedoria de Deus. A construção da torre de Babel é um exemplo do que pode fazer a sabedoria humana (Gn. 11.9). O projetos humanos tem causado muita desilusão, principalmente quando destituídos da orientação divina. A ciência tem trazido muitas contribuições para a sociedade, mas infelizmente tem servido mais para o mal do que para o bem. As grandes invenções estão a serviço dos interesses da minoria, pouco investimento tem sido feito na solução dos problemas sociais. O avanço do conhecimento não é proporcional à sabedoria, somos capazes de fazer viagens espaciais, mas não sabemos como conviver com nossos vizinhos. O otimismo da ciência, influenciado pelo Positivismo de Comte, está em declínio. A pós-modernidade é justamente a desconstrução dos valores cientificizados, até mesmo a confiança na educação está abalada. A formação acadêmica não é garantia de uma ética pautada no respeito ao próximo, sobretudo do temor a Deus, que é o princípio da sabedoria (Pv. 1.7). Para Tiago a sabedoria de Deus é espiritual, não é física, do grego psykikos, ou natural. Se diferencia também por não ser demoníaca (Tg. 3.15), os conhecimentos humanos podem ser projetos para a mentira (Rm. 1.18-25), para semear o ódio e a discórdia. A verdadeira sabedoria provém do alto, ela não é resultante apenas de lógica, mas da oração, de momentos de intimidade com Deus (Tg. 1.5). A palavra de Deus é o fundamento dessa sabedoria, pois ela nos torna sábios para a salvação (II Tm. 3.15).

3. A DEMONSTRAÇÃO DA SABEDORIA DO ALTO
A sabedoria que não provém de Deus é falsa, e se manifesta através da inveja que causa amargura (Tg. 3.14,16). A sabedoria dos homens, pautada no egoísmo, busca apenas o interesse próprio. Existem até aqueles que se ufanam da religiosidade, como faziam os fariseus dos tempos de Jesus (Mt. 6.1-18). O conhecimento bíblico acumulado não garante que o detentor é uma pessoa sábia.  Existem casos de pessoas que tem muito conhecimento, mas não são amorosos, é justamente o amor que equilibra o conhecimento, e revela sabedoria (I Co. 8.1). A ética do amor é a base da verdadeira sabedoria, os cristãos que são sábios amam, tanto a Deus quanto ao próximo (Mt. 22.37,38; I Co. 13). O sentimento faccioso é uma característica da  sabedoria meramente humana (Tg. 3.14, 26).  A palavra eritheia dá ideia de partidarismo, um dos sentimentos predominantes na igreja de Corinto (I Co. 1.10-13). Os cristãos que amadureceram na fé não vivem em disputas, não estão preocupados em conseguir espaço, não perseguem os holofotes. Essa é uma sabedoria vã, no sentido bíblico de vaidade, que passa, é efêmera, temporária (Ec. 1.1,2). É uma pena que muitas pessoas estão se digladiando dentro das igrejas por causa de espaço. As disputas políticas no contexto eclesiástico é uma demonstração de falta de sabedoria. A sabedoria do alto, que vem de Deus, nos conduz à mansidão, não se exaspera, não perde o controle (Tg. 3.13). A sabedoria do alto, que vem de Deus, nos impulsiona para a pureza. A santidade é uma marca do cristão que busca agradar o Senhor, que não se envolve com o mundanismo, que não ama as coisas do presente século (Rm. 12.1,2). A sabedoria do alto faz sossegar a nossa alma (Tg. 3.17), e nos dá a paz que o mundo desconhece (Jo. 14.27). Essa é uma paz que excede todo entendimento (Fp. 4.6,7), sendo resultante do fruto do Espírito (Gl. 5.22).

CONCLUSÃO
Vivemos na era do conhecimento, as pessoas estão envoltas de informações, algumas deles extremamente desnecessárias. Os cristãos, em meio às adversidades da vida, devem buscar a sabedoria de Deus, que vem do alto. Essa sabedoria está fundamentada no amor, na paz de Deus que excede todo entendimento. Além disso, ela é tratável, aberta à revelação de Deus, cheia de misericórdia, se preocupa com os necessitados. Essa, portanto, é uma sabedoria prática, que produz frutos, dignos de arrependimento (Mt. 3.8), demonstrada em imparcialidade, não se deixa cooptar pelas conveniências, não é fingida. Busquemos, pois, a sabedoria de Deus, que diferentemente da sabedoria do mundo, não produz problemas e resulta em bênçãos espirituais (Tg. 3.16-18).

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Lição 2 - O Propósito da Tentação

O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO

Texto Áureo Tg. 2.17 – Leitura Bíblica Tg. 2.14-26



INTRODUÇÃO
Conforme estudamos na lição anterior, a Epístola de Tiago foi endereçada às “doze tribos”, provavelmente judeus cristãos do primeiro século (Tg. 2.1). Esses estavam passando por situações adversas, provações por seguirem a Cristo. Na verdade esse é o preço do discipulado (Mt. 16.24). Na aula de hoje destacaremos o aspectos das provações pelas quais os cristãos passam, bem como os objetivos e as possibilidades de vitórias sobre essas. Ao final esperamos motivar os irmãos e irmãs que são perseguidos por amor a Cristo a perseverarem na fé, até a volta de Jesus.

1. A TENTAÇÃO QUE É PROVAÇÃO
A palavra traduzida por tentação na Almeida Revista e Corrigida (ARC) em grego é peirasmós também significa provação. Nesse contexto essa palavra seria mais adequada, ao invés de tentação, considerando que os crentes daquele período estavam passando por perseguições por causa de Cristo. Nesse texto o termo peirasmós tem uma conotação positiva, diferentemente da palavra tentação, cujo significado é negativo. A provação aponta, de acordo com as instruções de Tiago, para um teste, que resulta em aprovação ou reprovação. Evidentemente as pessoas não querem sofrer, há até os cristãos que propõem um cristianismo isento de sofrimento. Tal ensinamento não tem respaldo bíblico, pois Jesus ensinou que no mundo teríamos aflições (Jo. 16.33). Paulo afirma que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus (At. 14.22). E alertou Timóteo que todos os que querem viver piamente em Cristo padecerão perseguições (I Tm. 3.12). Jó concluiu que o homem nasce para a tribulação como as faíscas voam para cima (Jó. 5.7). As causas das provas são diversas, não necessariamente elas provêm de Deus. Há pessoas que são provadas por causa da condição humana. Isso acontece porque somos humanos, e como tais nós passamos por enfermidades e desapontamentos, como qualquer outra pessoa, seja ela crente ou descrente. Existem provas também que resulta dos nossos pecados, mas essas não podem ser generalizadas, nem todas as pessoas sofrem por causa de pecados (Jo. 9.1,2; 11.4). Algumas pessoas são provadas porque tomaram uma decisão por Cristo. Nos dias atuais a perseguição predominante é ideológica, os cristãos estão perdendo espaço, até mesmo empregos e posições sociais. Tiago utilizou o termo poikilos que significa várias em grego, isso quer dizer que as provações têm fontes variadas, mas até essas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm. 8.28).

2. OS OBJETIVOS DAS PROVAÇÕES

Provações (1.2-18; 5.7-11). A igreja primitiva nasceu em uma época de terríveis dificuldades - lembre-se de que Tiago estava escrevendo a crentes que tinham se espalhado pelo mundo devido à perseguição. Assim, nâo deve ser surpreendente descobrir que um dos temas principais deste livro é como reagir a provações e tentações.
Muitas destas provações vinham de fora. Judeus fanáticos ou “zelosos”, como Saulo de Tarso antes de sua conversão, prendiam e matavam os seguidores de Cristo(At 6.8-7.60). O reconhecimento público de Cristo como Salvador e Senhor nâo levava à popularidade, ao poder, ou ao prestígio. Tiago também sabia das lutas que ocorriam internamente. Uma provação pode colocar à prova a fé dos crentes,causando dúvidas e desânimo e tornando-os suscetíveis a inúmeras tentações. E Satanás tenta usar os tempos difíceis para dividir a igreja. Assim, Tiago incentivou o seu novo rebanho a reconhecer a origem dos seus problemas - a sua natureza pecaminosa e o mahgno (1.13-16), a permanecer concentrado em Deus e em sua bondade (1.17,18), e a resistir aos ataques sutis de Satanás (4.7).

Quando somos provados, essas não são além das nossas forças, Deus sabe até onde somos capazes de suportá-las (I Co. 10.11). Por isso devemos saber que as provações são passageiras, elas não duram para sempre (Tg. 1.2). Existem pessoas que sofrem mais do que outras, e Deus tem seus propósitos em cada vida. Não podemos esquecer que Ele pode utilizar as provações com o fim pedagógico (Tg. 1.3,4). Deus é um dos poucos professores que primeiro entrega a prova para que os alunos extraiam a lição depois. Abraão foi chamado por Deus, mas antes precisou ser provado, a fim de mostrar seu compromisso com o Senhor. As provas de Deus objetivam nosso amadurecimento espiritual. Os cristãos mais imaturos são justamente aqueles que menos foram provados. As provas, quando resultam em crescimento espiritual, fortalecem a fé dos crentes. Como destaca Paulo, nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória (II Co. 4.17). Todos nós estamos “em construção”, e Deus está trabalhando em nossas vidas (Ef. 2.8-10). Assim Ele fez com José e Moisés, e está fazendo em muitos outros, inclusive em nós. O resultado da provação é a perseverança, a palavra grega é hupomene, que significa paciência, mais propriamente, firmeza diante das adversidades. Os crentes imaturos não conseguem esperar muito, se afastam do caminho na primeira adversidade que encontram. Por causa dessa impaciência Moisés matou o egípcio, sansão contou seu segredo a Dalila, e Pedro quase matou Malco. Ninguém deve temer as provas, nem mesmo aquelas que são permitidas por Deus. Jó reconheceu que inicialmente conhecia Deus apenas de ouvir, mas depois de provado teve uma percepção mais grandiosa da glória de Deus (Jó. 42.5).

3. A VITÓRIA SOBRE AS PROVAÇÕES
Os evangélicos influenciados pelo hedonismo moderno pensam que a vitória sobre a provação é justamente se livrar delas. Mas essa é uma realidade que não se concretiza para todos, somente para alguns, de acordo com a soberania de Deus. Há aqueles que somente obterão vitória das suas provas na eternidade, como aconteceu com os heróis da galeria de Hebreus 11. A vitória sobre as provações está justamente na fé, que é firme fundamento das coisas que se esperam, mas que não são visíveis (Hb. 11.1). Esse é o tipo de fé que Deus exige do Seu povo, não uma fé de barganha, alicerçada nas satisfações pessoais. Essa geração está adoecida pelo hedonismo, o prazer tornou-se a razão de ser, até mesmo entre os cristãos. Influenciados pela teologia da ganância, e pelo movimento pseudopentecostal, querem apenas as mãos de Deus, se distanciam da Sua face. A vitória que vence o mundo é a nossa fé (I Jo. 5.4), pistis em grego, que também pode ser traduzida como fidelidade. Sem uma fé compromissada é impossível agradar a Deus, os que dEle se aproximam devem ser fieis, independentemente das circunstâncias (Hb. 11.6). Jesus se dirigiu às igrejas perseguidas da Ásia Menor, mais especificamente para Esmirna, que passaria por provações, instruindo-a para que essa fosse fiel até a morte (Ap. 2.8-11). Carecemos de uma geração de crentes que não tenha receio das provações, que não se acomodem com o marasmo, e com essa filosofia hedonista. Os bem-aventurados, conforme expôs Jesus, não são aqueles que não querem sofrer. Justamente o contrário, os bem-aventurados são aqueles que são perseguidos por causa do nome de Jesus. Esses devem exultar, pois grande será no céu o galardão deles (Mt. 5.12). Enquanto não chegarmos ao céu, vivemos nesta terra sujeitos às provações, essas servem para nosso amadurecimento espiritual. Isso porque Deus está mais interessando em forjar nosso caráter do que nos fazer financeiramente prósperos. O objetivo do Senhor, através das muitas provações pelas quais passamos, é moldar nosso caráter em conformidade com Cristo, nosso Modelo (Gl. 4.19).

CONCLUSÃO
Os cristãos não estão imunes às provas, estamos sujeitos às mesmas condições dos descrentes. Por causa da nossa fé em Cristo podemos ser perseguidos, quando isso acontecer devemos exultar, pois sabemos que receberemos de Deus o galardão no céu. As provações pelas quais passamos nos alinham a fim de que sejamos moldados ao caráter de Cristo. Deus está construído nossas vidas, Ele está escrevendo nossa história. Mesmo nas situações adversas devemos saber que Aquele que começou a boa obra haverá de levá-la adiante, apesar dos pesares (Fp. 1.6).



Dúvidas e sugestões através do email: licoesbiblicasresponde@gmail.com

BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.




sábado, 5 de julho de 2014

Lição 1 - TIAGO – FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS

TIAGO – FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS
Texto Áureo Tg. 2.17 – Leitura Bíblica Tg. 2.14-26



INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago, que será estudada ao longo deste trimestre, nos trará orientações a respeito do agir do cristão no mundo. Na aula de hoje introduziremos esse livro, considerando sua autoria, local, data e destinatário. Em seguida, destacaremos os propósitos da Epístola de Tiago, e ao final, apontaremos algumas instruções para os cristãos da contemporaneidade com base nesse texto bíblico.

1. EPÍSTOLA DE TIAGO
A Epístola de Tiago nem sempre foi compreendida pela igreja cristã, nem mesmo por alguns reformadores, que consideravam essa uma recaída no legalismo judaico. O próprio Lutero a criticava, argumentando que se tratava de “uma verdadeira epístola de palha, pois não é caracteristicamente evangélica”. Mas essa foi uma interpretação equivocada do sábio reformador, que não compreendeu o propósito do seu autor. Tiago, o autor da Epístola, é um dos quatro mencionados no Novo Testamento, sendo este o filho de José e Maria, portanto meio-irmão do Senhor (Mt. 1.18,20). Ele se tornou apóstolo de Cristo após testemunhar a ressurreição de Jesus, sendo considerado uma das colunas da igreja, além de ser líder influente em Jerusalém (At. 15.13-21; Gl. 1.19). O local da composição da Epístola é incerto, ainda que alguns estudiosos especulem que teria sido escrita em Jerusalém. A data provável deste escrito é entre 45 a 49 d. C., antes do concílio em Jerusalém (At. 15), sendo destinada aos cristãos judeus que residiam em comunidades de gentios fora da Palestina. Nas palavras do próprio Tiago, essa Epístola é destinada “às doze tribos que andam dispersas” (Tg. 1.1). A expressão “doze tribos”, nesse versículo é uma figuração dos israelitas daquela época, considerando que as doze tribos originais haviam sido desfeitas. Existem várias possibilidades de divisões dessa Epístola, apresentamos uma delas: Destino e saudação (Tg. 1.1); Provações e a maturidade cristã (Tg. 1.2-18); Cristianismo autêntico e suas obras (Tg. 1.19-2.26); Dissensões dentro da igreja (Tg. 3.1-4.12); Implicações de uma cosmovisão cristã (Tg. 4.13-5.11); e Exortações finais (Tg. 5.12-20). O versículo-chave da Epístola de Tiago certamente se encontra em Tg. 2.18: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras, mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Mas há outros destaques, dentre eles: 1) a prática da Palavra de Deus (Tg. 1.22); 2) a religião pura e verdadeira (Tg. 1.27); e 3) o valor da oração do justo (Tg. 5.16).

2. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
A relação entre fé e obras é o ponto central da Epístola de Tiago, e está em consonância com o argumento do autor da Epístola aos Hebreus, defendendo que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb. 11.6), e de Paulo, ao justificar que tudo que não é da fé é pecado (Rm. 14.23). Isso quer dizer que a fé exige ação, principalmente para aqueles que se deparam com provações (Tg. 1.2-4). Tiago revela, ao orientar a igreja, que a fidelidade faz diferença, por isso, ao enfrentarmos oposição, devemos nos considerar bem-aventurados (Tg. 1.12). Isso porque ao contrário do que é propagado na atualidade, as provas são instrumentos utilizados por Deus para o crescimento do cristão. Tiago adverte os irmãos da igreja para não se esquecerem da Palavra de Deus, especialmente diante das situações adversas (Tg. 1.22-25). Tiago também adverte a igreja em relação à distinção que se fazia entre as pessoas, principalmente no que tange à posição social (Tg. 2.1-6). A esse respeito a igreja pode influenciar a sociedade, na medida em que as pessoas se respeitam mutuamente, e se aceitam como irmãos e irmãs em Cristo, independentemente da condição socioeconômica. Deus exige fé, mas essa não pode ser atestada sem as obras, como testemunho para as pessoas. O objetivo de Tiago é justamente apontar a demonstração da fé, que acontece somente pelas obras. Evidentemente ninguém é salvo pelas obras, a salvação é pela graça, por meio da fé, não das obras, para que ninguém se glorie (Ef. 2.8,9). Por outro lado, como assume o Paulo no mesmo texto, fomos criados para as boas obras, para que andássemos nelas (Ef. 2.10). As pessoas que nos observam, e o próprio Deus, verão as nossas obras, como demonstração de fidelidade (Tg. 2.14-18). Jesus, antes mesmo de Tiago, destacou que os crentes são sal da terra e luz do mundo (Mt. 5.13) e que nos tornamos conhecidos através do frutos (Mt. 7.20). O controle da língua é fundamental na demonstração da fé do cristão, por isso os crentes devem ter cuidado, pois se “essa é inflamada pelo inferno” (Tg. 3.8). Ao invés de usar a língua para difamar, ou mesmo para murmurar, devemos orar a Deus, mas é preciso orar com sabedoria, não apenas para satisfazer nossos desejos egoístas (Tg. 4.2). Para o autor, os crentes não podem pactuar com o mundo, tornar-se amigo do mundo, significa ser inimigo de Deus (Tg. 4.4), antes devemos confiar no Senhor, que está no comando de todas as coisas (Tg. 4.13-15). Por fim, Tiago destaca o valor da igreja em comunidade, inicialmente na confissão dos pecados, e na oração uns pelos outros (Tg. 5.16).

3. INSTRUÇÕES DA EPÍSTOLA DE TIAGO
A partir das instruções de Tiago aos crentes primitivos, concluímos que essa epístola, ao contrário do que afirmou Lutero, não é “uma epístola de palha”. Tiago continua atual, e traz uma alerta para os crentes deste século. Em sua Epístola nos conclama a um cristianismo autêntico, fundamentado não apenas na doutrina, mas também voltado para a prática. A igreja cristã precisa avaliar-se continuamente a partir dessa mensagem. A doutrina bíblica da salvação demanda um ato de fé, uma convicção no sacrifício de Cristo na cruz do calvário (Ef. 2.8,9), mas também atitudes de fidelidade, que são demonstradas através de atitudes, condizentes com o evangelho de Jesus Cristo. Tiago não entra em contradição com Paulo, muito pelo contrário, seus posicionamentos se complementam. Em Rm. 3.28; 5.21; e Gl. 3.24 o Apóstolo dos gentios avalia a condição do homem pecador diante de Deus, mostrando a inutilidade da religião para a justificação. Em Tg. 2.24, o meio-irmão do Senhor ressalta a necessidade das obras, não apenas como demonstração perante os homens da salvação, mas também para nossa maturidade, na medida em que revelamos nossa fidelidade a Deus. Nesses tempos em que a igreja se volta para um cristianismo distanciado de um viver autenticamente cristão, faz-se necessário repensarmos, a partir da Palavra de Deus, quem de fato somos, e como devemos agir no mundo. A natureza da religiosidade precisa ser percebida à luz da orientação bíblica, caso contrário, nos tornaremos um mero ajuntamento de pessoas, debaixo de interesses meramente humanos. Os membros da igreja, como comunidade de fé, devem se relacionar uns com os outros, demonstrando atenção, especialmente os mais necessitados. Um cristianismo individualista, no qual as pessoas não se envolvem umas com as outras, nada tem a ver com aquele expresso por Jesus, ao edificar a Sua igreja. A igreja que é ekklesia sabe que está no mundo, que deve ser luz nas trevas, e apontar para Aquele que nos chamou para segui-Lo.

CONCLUSÃO
A Epístola de Tiago, escrita ainda no Século I, nos trás uma mensagem atual, que chama todo cristão à responsabilidade. A modernidade nos legou uma “zona de conforto”, até mesmo o cristianismo foi solapado por esse “modus vivendi”. Esse livro bíblico, que será estudado ao longo deste trimestre, abalará as estruturas de nossa sociedade acomodada. Oramos para Deus, que fale pela Palavra e o Espírito, a fim de que sejamos moldados à imagem de Cristo, e vivermos um cristianismo autêntico, em que nossas obras sejam condizentes com a fé que expressamos.

BIBLIOGRAFIA
DAVIDS, P. H. Tiago. São Paulo: Vida, 1997.
MOO, D. J. Tiago: introdução e comentário. São Paulo: 1999.